sábado, 29 de janeiro de 2011

" ISRAEL HOJE: MILAGRE ECONÔMICO ".







Israel é tão pequeno que caberia dentro de Sergipe, o menor estado brasileiro. Mais da metade de seu território é pura areia. E seus 7 milhões de habitantes vivem atormentados pela es- cassez de água e de recursos naturais. Já não bastasse tudo isso, o país enfrentou sete guerras e duas intifadas. Qualquer economista diria: são problemas de sobra, o bastante para emperrar o crescimento de uma nação. Mas Israel desafia essa lógica.

A moderna economia israelense não pára de crescer. Em 2006, o Produto Interno Bruto (PIB) alcançou os US$ 148 bilhões, alavancado pela enorme concentração de indústrias de alta tecnologia. As exportações somam US$ 42 bilhões, mais do que o total de seus vizinhos, excluindo o petróleo. E o PIB per capita é de US$ 21 mil, quatro vezes o do Brasil e cinco vezes a média do Oriente Médio. Em apenas 60 anos, Israel conseguiu a façanha de ingressar no seletíssimo grupo dos países mais competitivos do mundo. Como explicar esse fenômeno?

Abençoada imigração

Saia andando por Israel e você vai escutar sotaques de vários cantos do mundo. Por trás dessa diversidade está o primeiro fator de crescimento do país: os imigrantes. As primeiras grandes levas chegaram em 1880, quando o Império Otomano ainda dominava a Palestina. Vindos principalmente da Rússia e da Europa Oriental, eles desenvolveram as primeiras técnicas de cultivo e irrigação do yishuv (comunidade), transformando aquele pedaço de deserto em uma espécie de comuna socialista. A imigração intensificou-se com a ascensão do nazismo. Resultado: em 1948, ao declarar sua independência, Israel já contava com cerca de 650 mil judeus – um contingente populacional que simplesmente dobraria nos cinco anos seguintes.
“Os recém-chegados da Europa tinham excelente formação acadêmica. Muitos eram médicos, advogados, técnicos e professores. Isso contribuiu para o boom econômico dos anos 40 e 50”, diz a cientista israelense Zahava Scherz, do Instituto Weizmann. “Os imigrantes eram idealistas e altamente motivados. Perceberam que não tinham escolha a não ser a construção de seu próprio país. E estavam determinados a fazer isso rápido e bem-feito.”
Entre 1949 e 1950, Israel realizou 380 viagens de avião para resgatar cerca de 50 mil judeus que viviam no Iêmen. Foi a operação Tapete Mágico. Em 1984 e 1990, outros 30 mil judeus etíopes aterrissaram na Terra Santa, graças às operações Moisés e Salomão. Embora tenha custado muito dinheiro, a absorção de tanta gente foi fundamental para injetar mão-de-obra, aumentar a demanda, incentivar a produtividade e ampliar o mercado interno.
Com o colapso da URSS, Israel recebeu outra impressionante dose de capital humano. Nada menos que 1 milhão de pessoas chegaram entre 1990 e 1999, inflando a população em 20%. “Entre esses imigrantes havia mais de 100 mil cientistas e engenheiros”, diz Augusto Lopez-Claros, economista-chefe do programa de competitividade global do Fórum Econômico Mundial. “Hoje, Israel tem o maior número de engenheiros per capita do mundo, 140 por 10 mil habitantes. É mais que o dobro de EUA e Japão, segundo e terceiro colocados.”
A economia de Israel cresceu rapidamente em seus primeiros anos graças, também, a doações de judeus da Diáspora. Em uma missão ao país em 1968, o Banco Mundial classificou seu desempenho de “milagre econômico”, levando-se em conta os recursos naturais escassos, a hostilidade dos vizinhos e o esforço para a absorção de tantos imigrantes. Para o banco, esse milagre tinha duas explicações: mão-de-obra qualificada e capital externo.
Por “capital externo”, a missão referia -se não apenas às doações da Diáspora, mas também às reparações feitas pela Alemanha após o Holocausto. Elas foram usadas para financiar importações e obras de infra-estrutura. As reparações ao Estado terminaram há anos, mas as indenizações a vítimas do nazismo continuam. Juntas, estimam os analistas, elas somariam alguns bilhões de dólares. “O país continua recebendo ajuda externa, mas sua importância é cada vez menor”, diz o economista americano Stanley Fischer, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional e atual chefe do Banco de Israel.

Indústria da guerra

Seis décadas de guerras e a constante ameaça terrorista acabaram gerando um diferencial para Israel. “A necessidade de defesa deu origem a um complexo industrial-militar que se tornou um motor para o crescimento econômico”, diz a analista americana Linda Sharaby em um artigo do Middle East Review of International Affairs (Meria). A urgência por uma indústria militar forte ficou clara no dia seguinte à independência, quando Israel foi invadido por exércitos vizinhos e sofreu um embargo de armas por parte de EUA e URSS. A solução foi unificar os grupos de defesa e desenvolver um dos exércitos mais eficientes do mundo. Naquele mesmo ano, era criado o braço científico das Forças Armadas. Esse organismo está na origem da indústria de alta tecnologia, que hoje responde por 45% das exportações.
Israel também instituiu serviço militar de três anos para homens e dois anos para mulheres. Por um lado, isso desfalca o mercado de trabalho, já que os jovens israelenses entram na universidade quando os de outros países estão quase se formando. Por outro lado, o Exército tornou-se uma instituição-chave, que promove a coesão social e seleciona “mentes brilhantes” para cargos em unidades computacionais de elite.
Imigração, ajuda externa e indústria bélica são fatores decisivos na história econômica de Israel. Mas não teriam levado a resultados tão positivos sem um regime democrático. A opção israelense pela democracia garantiu uma base institucional para o desenvolvimento do país. Com pouca corrupção, poder judiciário independente, proteção à propriedade intelectual e total incentivo aos investimentos externos, foram criadas as condições necessárias para o pleno crescimento da economia.
No início, o governo adotou programas austeros. Aos poucos, foi passando a bola para o mercado. “Desde muito cedo, os líderes entenderam que era preciso liberar o comércio”, diz o economista Stanley Fischer. De fato, Israel começou a baixar suas barreiras tarifárias ainda nos anos 60, quase 30 anos antes do Brasil. As reformas pavimentaram o caminho para a rápida expansão econômica. O PIB cresceu, em média, 9% ao ano até 1965. E voltou a crescer após a guerra de 1967, quando o turismo ganhou impulso e o país passou a contar com a mão-de-obra residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Entre 1950 e 1968, a economia israelense só não cresceu tanto quanto a japonesa, com expansão média do PIB de 9,7% ao ano.
Depois de uma forte crise econômica entre 1973 e 1985, o governo conseguiu domar a hiperinflação e aprofundou as reformas pró-mercado. Nos anos 90, ele abriu completamente a conta de capitais (ou seja, liberou a entrada e a saída de divisas). “Foi uma iniciativa fundamental para mudar toda a concepção do setor de negócios e possibilitar que Israel aproveitasse as oportunidades do mundo globalizado”, diz Fischer. A receita deu certo. Hoje, o país tem inflação próxima de zero, a moeda é forte e os índices de pobreza e desemprego não param de cair, ano após ano.

Alta tecnologia

Um dos passos mais importantes de Israel rumo à prosperidade econômica foi dado ainda em 1959, quando o país não passava de um pré-adolescente. Naquele ano, o governo promulgou a Lei de Estímulo aos Investimentos de Capital (LECI), que garantia vantagens fiscais aos investidores externos. “A idéia era que as multinacionais não apenas criassem empregos em Israel, mas também trouxessem tecnologia, know-how e canais de exportação”, diz Lopez-Claros. Não deu outra: nos anos seguintes, Motorola, IBM, HP, Oracle e Intel, entre outros gigantes da alta tecnologia, instalaram fábricas no país. A entrada de capital externo saltou de US$ 600 milhões em 1993 para 6 bilhões em 2005.
Investidores bilionários também descobriram Israel. Bill Gates, o homem mais rico do mundo, construiu ali um enorme centro de pesquisa da Microsoft. E Warren Buffett, o segundo da lista, acaba de comprar, por US$ 4 bilhões, um peso pesado israelense – a Iscar Metalworking, do setor de ferramentas industriais. “Uma nação pode se transformar em 60 anos”, diz Eli Opper, cientista-chefe do Ministério da Indústria, responsável pelo incentivo à criação de empresas. “Nesse tempo, Israel deixou de ser a terra do leite e do mel para se transformar na terra da alta tecnologia.”


Você sabia?

Seu dia-a-dia está repleto de tecnologia israelense
ANTIVÍRUS

O primeiro software desse tipo para PCs foi desenvolvido em Israel

CORREIO DE VOZ

É uma invenção da empresa Comverse, também de Israel

ICQ

A tecnologia do AOL Instant Messenger foi desenvolvida por quatro jovens israelenses

ZIP

A ferramenta de compressão foi desenvolvida no Instituto Technion, de Israel

TELEFONE CELULAR

Foi desenvolvido em Israel pela Motorola

TELEFONIA IP

Foi inventada por dois israelenses, fundadores da empresa VocalTec

PROCESSADORES

Os modelos Centrino e Pentium-4 Dotan foram criados pela Intel israelense 

Israel nos rankings econômicos

O país tem mais cientístas por habitante que os EUA
1º Lugar
ENGENHEIROS

Em Israel, são 140 para 10 mil habitantes. EUA e Japão têm a metade desse número.

CIENTISTAS

Há 135 deles para cada grupos de 10 mil israelenses. Nos EUA, são apenas 85.

TELEFONES CELULARES

O país é recordista mundial em número de assinantes de telefonia móvel por mil habitantes.


2º Lugar
INDÚSTRIAS DE ALTA TECNOLOGIA

Só o Vale do Silício, na Califórnia, supera Israel na concentração desse tipo de indústria.

FUNDOS DE CAPITAL DE RISCO

Oitenta fundos de capital de risco operam hoje no país. Em 1991, havia apenas um.


3º Lugar
EMPREENDEDORISMO

Israel só tem menos empreendedores que EUA e Hong Kong.


22º Lugar
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

O vizinho mais próximo é a Arábia Saudita, no 78º lugar. O Brasil está na 69ª posição. 

Fábrica de gênios

Investimentos pesados em educação, ciência e tecnologia ajudam a explicar o "milagre econômico" de Israel

Na falta de território e recursos naturais, Israel fez do aprendizado sua vantagem comparativa. Investir em educação foi um dos caminhos escolhidos pelos israelenses para chegar ao desenvolvimento. A estratégia deu certo. Tão certo que Israel, hoje, é mais que um país com mão-de-obra altamente qualificada. Transformou-se em uma verdadeira fábrica de gênios (veja quadro na página ao lado).
Uma das explicações para esse fenômeno é o Centro de Educação Científica, criado pelo Ministério da Educação e pelas sete maiores universidades israelenses para estimular o pensamento criativo dos jovens. “Ciência e tecnologia são os recursos econômicos mais importantes de um país”, diz a cientista Zahava Scherz, do Instituto Weizmann. Há poucos anos, esse instituto foi apontado como o melhor lugar do mundo para conduzir pesquisas. É também o terceiro colocado no ranki mundial de geração de renda proveniente da transferência tecnológica. Em novembro de 2006, Zahava participou de um seminário sobre educação em Belo Horizonte (MG) e descobriu que o Brasil está pensando em adotar livros e currículos escolares israelenses, adaptados à realidade brasileira. “Isso já está sendo feito na Grã-Bretanha.”
A educação em Israel é obrigatória até os 16 anos e gratuita até os 18. A única fase paga é a universidade, com custos mais acessíveis que na Europa e nos EUA. Quem não pode pagar recorre às bolsas de estudo. “Creio que o sucesso do sistema educacional israelense tem sua origem na tradição judaica de estudos, cultivada por centenas de anos”, diz o Prêmio Nobel Aaron Ciechanover, do Centro de Pesquisas em Biologia Vascular do Instituto de Tecnologia Technion, em Haifa. “A explicação talvez esteja na longa história de perseguições. Os judeus não podiam ter propriedades nem trabalhar na terra. Sempre expulsos de um país para o outro, eles perceberam que a única coisa em que podiam confiar e ter consigo, onde quer que fossem, era o conhecimento.” 

Israel nos rankings educacionais

Os israelenses gastam mais com pesquisa que a União Européia
1º Lugar
GASTOS COM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

Israel destina 4,8% do PIB para esse fim, enquanto a União Européia ainda se esforça para chegar a 3%. Logo atrás dos israelenses neste ranking aparecem os suécos, os finlandeses e os franceses.

ARTIGOS CIENTÍFICOS

Nenhum outro país no mundo publica mais artigos científicos que Israel: em média, são 109 publicações para cada grupo de 10 mil habitantes.

2º Lugar
GASTOS PÚBLICOS COM EDUCAÇÃO

Neste quesito, Israel perde apenas para a Dinamarca. O Estado subvenciona 72% do total de gastos com a eduçacão.

3º Lugar
NÍVEL UNIVERSITÁRIO

Mais de 20% da população freqüenta a universidade. Só EUA e os Países Baixos têm média superior. 

Excelência científica

Só nos últimos 5 anos, o país ganhou quatro Prêmios Nobel
Yisrael Robert John Aumann - Nobel de Economia 2005

Formado pela Escola Rabínica de Nova York e membro da Academia Americana de Ciências, o matemático Yisrael Aumann ajudou a entender os princípios do conflito e a da cooperação por meio da chamada Teoria dos Jogos. Graças a modelos que ele desenvolveu nos anos 60 e 70, tornou-se possível delinear as opções disponíveis para um adversário em determinada circunstância e prever qual será seu próximo passo. Aumann nasceu na Alemanha e emigrou para os EUA fugindo do nazismo. É pesquisador do Centro de Estudos da Racionalidade na Universidade de Jerusalém.

Avram hershko e Aaron ciechanover - Nobel de Química 2004

Os biólogos Hershko e Ciechanover dividiram o prêmio com o americano Irwin Rose ao resolver o enigma de um processo de degradação de proteínas ligado à progressão do câncer. Nascido em Haifa, Ciechanover vem de uma família de imigrantes poloneses da cidade de Ciechanów (daí seu sobrenome). Ele estudou medicina na Universidade Hebraica de Jerusalém. É professor de bioquímica e diretor do Instituto Rappaport de Pesquisas Médicas no Instituto Technion. Avram Hershko, nascido na Hungria, também estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém. Dá aulas no Instituto Technion e na Universidade de Nova York.

Daniel Kahneman - Nobel de Economia 2002

O psicólogo Daniel Kahneman nunca esteve em uma aula de economia. Mas seus trabalhos foram fundamentais para decifrar o comportamento de investidores no mercado financeiro. Ele mostrou como fatores psicológicos podem influir no dia-a-dia dos negócios por meio da heurística – um conjunto de “regras” simples que as pessoas usam intuitivamente para tomar decisões. Filho de judeus lituanos, Kahneman formou-se em Matemática e Filosofia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Leciona em Princeton (EUA). 

A melhor orquestra do mundo

Fuga do nazismo fez nascer a Filarmônica de Israel

A idéia partiu do violinista polonês Bronislaw Huberman. Em 1936, recém-chegado à Palestina depois de fugir do nazismo, ele convenceu outros 75 músicos judeus da Europa a emigrar. Formou-se, assim, a então chamada Orquestra da Palestina. Quem primeiro ergueu a batuta foi o maestro italiano Arturo Toscanini, que também escapava do fascismo em seu país. Com a criação do Estado judeu, em 1948, o grupo trocou de nome, transformando-se na Filarmônica de Israel – considerada a melhor do mundo na atualidade. A orquestra coleciona histórias memoráveis. Nas guerras travadas por Israel, ela foi ao front para levantar o moral dos combatentes. Em 1971, sob o comando de Zubin Mehta, tocou uma sinfonia de Mahler em Berlim, a poucos metros de onde funcionou o centro do poder nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Vinte anos mais tarde, ela dividiu o palco com Plácido Domingo em Toledo, na Espanha, para lembrar os 500 anos da expulsão dos judeus daquele país. Nos anos 90, seus músicos juntaram-se a 500 crianças palestinas e judias em um concerto pela paz em Jerusalém. O dilema da OFI, quando toca em Israel, sempre foi executar as peças do alemão Richard Wagner – notório anti-semita e compositor favorito de Hitler. Zubin Mehta tentou várias vezes, sem sucesso. Em 1981, estava prestes a conduzir uma parte de Tristão e Isolda quando um sobrevivente do Holocausto levantou-se e expôs o número do campo de concentração tatuado no braço. O maestro argentino-israelense Daniel Barenboim acabou com esse tabu em 2001, ao executar a mesma peça em um festival em Jerusalém. A orquestra que ele conduzia, porém, era outra: a Staatsoper de Berlim.

" ALFABETO HEBRAICO ".

ALFABETO HEBRAICO


















O alfabeto hebraico, também conhecido como Alef-Beit, é o utilizado para a escrita em hebraico, que é uma língua semítica pertencente à família das línguas Afro-Asiáticas, mais falada em Israel. Também é utilizado para escrever o iídiche, língua germânica falada pelos judeus da Europa Oriental e Alemanha. Esse alfabeto é escrito da direita para a esquerda, assim como o alfabeto árabe. 
א - alef = sem som
ב - bet = b (em algumas palavras como v)
ג - gimel = g
ד - dalet = d
ה - he = h
ו - vav = v/w (em algumas palavras como a vogal o ou u)
ז - zain = z
ח - chet = h aspirado
ט - tet = t
י - iud = y
כ - caf/khaf = k ou kh [como o j espanhol] (depende da palavra) (no final de palavra ך)
ל - lamed = l
מ - mem = m (no fim de uma palavra ם)
נ - nun = n (no fim duma palavra ן)
ס - samekh = s
פ - pei/fei = p ou f (depende da palavra) (no final de palavra ף)
ע - ain = nasaliza a vogal associada
צ - tzadi = tz (no final de palavra ץ)
ק - kof = k
ר - reish = r
ש - shin/sin = x (ch)/s (depende da palavra)
ת - tav = t
Nota: o alfabeto hebraico só utiliza consoantes, sendo que as vogais podem ser representadas por sinais diacríticos, chamados niqqud ou sinais massoréticos. A letra "aleph" existe para representar as sílabas em que não há consoantes, como o E da palavra "Elohim" (אלהים).
FONTE:

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" História da Língua Hebraica "



Pequena História da Língua Hebraica
1 – Um Panorama Geral
Chaim Rabin

Por cerca de mil e trezentos anos, desde a conquista da Palestina, até após a guerra de Bar-Kohba, os judeus falaram o hebraico. Passaram então a falar outras línguas por mais de dezesseis séculos, até que o hebraico voltou a ser novamente falado na Palestina, há cerca de noventa anos.
As causas da interrupção da utilização do hebraico como língua falada devem ser encontradas no fato de que, a partir do Exílio da Babilônia, grande parte do povo judeu falava outras línguas. Os judeus da Babilônia falavam o aramaico, e os do Egito falavam o grego durante o período helenístico. Mesmo na Palestina havia regiões, como a Galiléia e a planície costeira, em que os judeus falavam o aramaico e o grego. O hebraico falado prevaleceu somente na Judéia e em algumas regiões um pouco mais ao sul, próximas à cidade de Hebron. Este hebraico estava longe de ser a linguagem da Bíblia. Era a linguagem que atualmente denominamos de hebraico mishnaico ou a língua dos Sábios. Quando, nas guerras de 66-70 (destruição de Jerusalém) e de Bar-Kohba (131-134), a Judéia foi arrasada e o remanescente dos habitantes judeus, inclusive os sábios, foi se estabelecer na planície costeira e na Galiléia, o som do hebraico falado cessou e os imigrantes foram aos po ucos adotando o aramaico.
Os judeus, entretanto, através de todos os períodos do Exílio (70 E.C. a 1948), nunca deixaram de ler e escrever hebraico. Uma vasta literatura foi se acumulando nesses períodos, incluindo livros de sabedoria religiosa, filosofia, ciência, assim como de leve entretenimento, poesia religiosa e secular, peças teatrais, livros de viagens e obras históricas. Houve mesmo países nos quais os judeus mantiveram a tradição de escrever suas cartas e documentos particulares em hebraico. Os judeus da Inglaterra medieval (séc. XII e XIII), por exemplo, registravam em hebraico até mesmo os títulos referentes a empréstimos feitos a não judeus.
Muitos falavam o hebraico esporadicamente. Há relatos sobre judeus de países diferentes, que falavam hebraico quando se encontravam e não dominavam, em comum, nenhuma outra língua. Os judeus falavam hebraico nas feiras para não serem entendidos por seus clientes não judeus. Aos sábados, os homens pios falavam somente hebraico. Com tudo isso ninguém pensou em adotar o hebraico na linguagem cotidiana. Os judeus são o Povo do Livro; que importância poderia ter a conversação diária diante da língua do Livro?
Naquela época, na Idade Média, a língua ainda não era um atributo de nacionalidade, pois não existiam ainda nações na concepção atual do termo. Muito tempo depois de os povos da Europa terem iniciado suas lutas pela independência nacional nos assuntos públicos e governamentais, os judeus ainda não se consideravam uma nação como outras. Tinham começado a produzir uma literatura ocidentalizada moderna em hebraico, mas não aspiravam a funções oficiais para a Língua de Eber, e tampouco lhe haviam definido um lugar em sua vida, além dos limites religiosos e literários.
No século XIX, o hebraico só era falado em Jerusalém e, em escala menor, no resto da Palestina. Ali encontravam-se judeus de diversas comunidades: os aschkenazitas de fala iídiche, os sefarditas de fala árabe ou espanhola, e, como os judeus da Idade Média, falavam hebraico entre si, pois esta era a única língua mais ou menos compreensível para todos. Visto que os sefarditas eram comerciantes e artesãos, os aschkenazitas acabaram adotando a pronúncia sefardita quando falavam o hebraico nas transações comerciais. Ninguém pensava nela como língua nacional.
Em 1881, chegou à Palestina um jovem judeu lituano, que adotara o nome hebraico de Eliezer Ben-Yehuda. Ainda na Europa, tinha concebido a idéia da nacionalidade judaica, e o hebraico como sua língua oficial. Em 1879, publicou na revista trimestral Haschahar, de Viena, um artigo em hebraico denominado Uma Questão Candente. Ali divulgava suas idéias revolucionárias. Ainda em Paris começou a falar em hebraico. Encontrou judeus da Palestina e com eles aprendeu a pronúncia sefardita. Ao chegar à Palestina procurou falar hebraico com todas as pessoas que encontrava, descobrindo que sabiam responder-lhe nesse língua.
Imediatamente após sua chegada, começou a proclamar dois novos princípios: o hebraico devia ser falado em casa, em família, e devia tornar-se a língua oficial nas escolas. Ele próprio colocou ambos em prática: ensinou durante um período, em hebraico, na escola da Alliance Israélite Universelle, de Jerusalém, e utilizou em casa somente o hebraico. Quando nasceu seu primogênito, empenhou-se em dar à criança o hebraico como sua primeira língua. Itamar-Ben-Avi, como foi chamado mais tarde o filho, foi assim a primeira criança a Ter o hebraico como língua materna.

2 – O Desenvolvimento do Hebraico
Chaim Rabin

Supõe-se, em geral, que o hebraico morreu após a destruição do Segundo Templo (ano 70 E.C.), passando a servir então, principalmente, como língua das orações; acredita-se também que, embora alguns livros tenham sido depois escritos em hebraico, a língua não sofreu acréscimos e permaneceu estagnada. Este ponto de visto é falho em vários aspectos. Primeiramente, apesar de ser verdadeiro que o hebraico deixou de ser falado, a atividade literária no período da diáspora foi imensa. O número de livros escritos neste período (70 E.C. a 1948) atinge dezena de milhares, incluindo alguns volumes bastante alentados, e cada livro contribuiu com algo para o desenvolvimento da língua, ao tratar de diferentes temas e problemas. Em segundo lugar, é certamente errôneo supor que somente línguas faladas se desenvolvem e crescem. Ao contrário, mesmo nas línguas vivas o enriquecimento do vocabulário se dá, principalmente, na linguagem escrita. No ca so do hebraico, dezenas de milhares de palavras foram criadas, no período da diáspora, para designar idéias, instituições e invenções surgidas naquele decurso de tempo. Além disto, muitas palavras novas foram criadas, sem qualquer razão externa aparente, já que, em todos os idiomas, palavras deixam de ser usadas e são substituídas por outras. O vocabulário criado no período da diáspora não foi até agora totalmente coletado, pois está disperso em grande número de livros, muitos dos quais existem só em manuscritos; somente o Dicionário Histórico, que está sendo atualmente preparado pela Academia da Língua Hebraica, poderá incluir todas essas riquezas.
Um dicionário do hebraico contemporâneo contém material formado de várias camadas lingüísticas superpostas. Em suas páginas encontram-se palavras com mais de três mil anos, algumas criadas há apenas mil anos, e outras que penetraram na língua bem recentemente. Aparecem todas lado a lado, e em conjunto formam uma unidade: o vocabulário em uso em nossa geração. O atual falante hebraico não está consciente de que estas palavras são de diferentes períodos. Para ele são todas a mesma coisa, ou seja, todas são palavras hebraicas. No conjunto, não é possível reconhecer pela aparência externa se a palavra é antiga ou recente. Somente o estudo de livros escritos em diferentes períodos revelará quando determinado vocábulo começou a Ter curso na língua. Há alguns dicionários que indicam, até certo ponto, a época em que uma palavra entrou em uso. Estes são o grande Thesaurus de Ben Yehuda, os dicionários de Y.Gur, de Y.Kenaani e a Segunda edição de A.Even-Shoschan .
Nas cartas de Tell-El-Amarna, escritas na língua babilônica, antes da conquista israelita da Palestina, que contêm algumas palavras da língua local, aprendemos que, no século XIV a.C., tais palavras já tinham o mesmo significado de hoje; navio, verão, pó, gracioso, muralha, gaiola, tijolo, falta, portão, campo, agente comercial, cavalo, imposto e mais cerca de quinze outras palavras, que eram correntes na fala da Palestina. Esta são, portanto, as primeiras palavras hebraicas atestadas em documento escrito. Subentende-se naturalmente, que àquela época eram correntes também milhares de outras palavras dentre as quais, algumas encontradas na Bíblia, mas não mencionadas nas cartas de Tell-El-Amarna, por falta de oportunidade.
O mesmo se aplica à própria Bíblia. A Bíblia emprega cerca de 8.000 palavras hebraicas diferentes (das quais 2.000 aparecem apenas uma vez), mas certamente este não era o vocabulário completo disponível para o falante hebraico no período bíblico. Esse vocabulário atingia, sem dúvida, 30.000 ou mais vocábulos, mas os autores dos vários livros da Bíblia não tinham motivos para usar a maioria deles. A Bíblia trata de um número restrito de temas e não é uma enciclopédia. O número de palavras diferentes nas partes hebraicas na Mischná, Tosefta, nos Talmudes, e nos Midraschim, que denominamos em conjunto Hebraico Mischnaico, é muito maior, porque a variedade de temas é maior. É bem viável que muitas das palavras existentes no Hebraico Mischnaico, eram usadas no período bíblico, mas não foram empregadas na Bíblia. Uma apalavra encontrada nas cartas de Tell-El-Amarna, nos dá uma prova disso: é masch-hezet (mó).
Apesar de numericamente pobre, o vocabulário contido na literatura bíblica é de especial importância para o hebraico atual. Como é sobejamente sabido, nem todas as palavras de uma língua são usadas com igual freqüência. Algumas são constantemente empregadas como homem, coisa, casa, fazer, falar; outras são usadas em ocasiões extremamente raras, embora a média dos que usam o hebraico como língua nativa esteja familiarizada com seu significado. A pesquisa científica demonstrou que, em qualquer língua, 1.000 palavras compõem cerca de 85% de todo o material de um texto médio. Entre essas 1.000 palavras mais freqüentes em hebraico, 800 são da época bíblica. A lista dos 1.000 vocábulos mais usados, como ensinam os Ulpanim também inclui cerca de 800 palavras hebraicas bíblicas. Assim, a importância do vocabulário bíblico é desproporcional à sua participação numérica entre os 60.000 ou mais vocábulos que compõem o hebraico atual.
A análise de textos de jornal demonstrou que 60 a 70% das palavras usadas nos noticiários comuns são bíblicos, enquanto cerca de 20% são encontradas somente na literatura mischnaica, e a pequena percentagem restante é composta de termos de origem medieval e invenções modernas. Uma recente pesquisa numa mostragem de 200.000 palavras correntes, selecionadas ao acaso em jornais e periódicos, demonstra que entre as palavras que ocorrem mais de cinco vezes ( o que compõe quase metade do vocabulário inteiro encontrado em tais textos), as palavras bíblicas formam 61% das ocorrências. A diferença é devida à inclusão de artigos de fundo, comentários, etc., onde palavras recentemente criadas ocorrem em maior número.
Cerca de 14.000 palavras do dicionário hebraico provêm da linguagem mischnaica. Isto não constitui o número total de palavras usadas naquela época, pois o hebraico mischnaico tem mais de 6.000 palavras em comum com o hebraico bíblico. Assim, as fontes do hebraico mischnaico (Mischná, Tossefta, partes hebraicas do Talmude e Midraschim) usam um vocabulário total de cerca de 20.000 palavras.
A edição recente do dicionário de A.Even-Schoschan, de acordo com a estimativa de seu autor, inclui 6.500 palavras de fontes medievais. Estas derivam principalmente do Piyut (poesia litúrgica), dos escritos judaicos medievais da Alemanha e França (principalmente dos comentários de Raschi), e das traduções feitas no sul da França nos séculos XII a XIV. Estas não são obviamente todas as palavras que foram criadas durante o longo período que decorreu entre o Talmude e o renascimento da língua hebraica. Este material está apenas parcialmente registrado.
Algumas milhares de palavras, de uso comum atualmente, foram tomados do aramaico talmúdico. A aramaico difere totalmente do hebraico na fonética, e na gramática mas o constante trato dos judeus com o Talmude Babilônico, e, mais tarde também com o Zohar, obra mística escrita em aramaico, levou à absorção de muitas palavras do aramaico, já na Idade Média, com pequenas alterações formais, para lhes dar aparência de palavras hebraicas. Os estudiosos responsáveis pela ampliação do vocabulário técnico do hebraico, nos tempos modernos, têm continuado este processo e palavras desta origem têm passado para o hebraico constantemente.
O próprio Even Schoschan apresenta perto de 15.000 palavras criadas desde o renascimento da língua hebraica. Uma vez que este dicionário não contém termos puramente técnicos, das ciências naturais e da tecnologia, o número de palavras adicionadas nestes noventa anos é provavelmente muito maior, embora tenhamos que deduzir uma certa porcentagem de palavras que não obtiveram aceitação.
O hebraico, como outras línguas, cresceu por camadas, sendo que cada uma corresponde a um período da língua, e podemos encontrar fortes traços de todas elas na nossa atual linguagem falada e escrita. Não apenas o vocabulário foi acrescido, mas cada período também contribuiu com sua parcela de formas gramaticais e de estruturas sintáticas. Algumas das inovações dos vários períodos caíram em desuso, mas algumas das palavras e das características gramaticais que desapareceram foram subseqüentemente recuperadas, e algumas estão sendo revividas atualmente. No hebraico moderno, todos estes elementos estão sendo combinados numa nova unidade orgânica. O falante do hebraico em Israel não está consciente da diferente idade das palavras que usa, assim como poucos falantes do inglês têm consciência da origem histórica das palavras de sua língua e da época em que penetraram no inglês.
O interesse em esclarecer estas origens é histórico e intelectual e não influi sobre o modo como estas palavras e estruturas são usadas. Em Israel há autores de assuntos lingüísticos que acreditam que a origem de uma palavra deve influir em matéria de estilo, e, devido ao intenso estudo da Bíblia, e em alguns círculos, da Literatura Rabínica, a consciência da origem das palavras torna-se mais viva em israel do que na maioria dos outros países.

Fonte:
RABIN, Chaim. Pequena história da língua hebraica.1.ed. Trad. Rifka Berezin. São Paulo,
Summus, /1973/. p.11-20.

sábado, 15 de janeiro de 2011

" B ' nai Mitzvá (filhos do mandamento)."


O que é? 
 

B´nai Mitzvá (filhos do mandamento) é a cerimônia Judaica em que o rapaz Judeu, ao completar 13 anos atinge a maturidade na comunidade Judaica. Com a moça acontece o mesmo, porém aos 12 anos de idade. Nessa altura, diz-se que o menino passa a ser Bar Mitzvah ("filho do mandamento") e a menina passa a ser Bat Mitzvah ("filha do mandamento"). Segundo a lei Judaica é com essa idade que o menino e a menina atingem a maturidade, são responsáveis por seus atos e assumem seus compromissos com a religião e com a comunidade. O bat ocorre antes do bar pois a cultura Judaica entende que o desenvolvimento físico e emocional das meninas ocorre antes dos garotos.   

Cerimônia 
No Judaísmo o B´nai Mitzvá é uma grande festa. Toda criança Judia anseia por este dia, quando, finalmente, a moça e o rapaz Judeus se tornarão “adultos” e receberão as bênçãos de seus pais. Neste dia, o Bar Mitzvah ou Bat Mitzvah recebe presentes de amigos e parentes, veste uma roupa nova e perante toda a Congregação lerá pela primeira vez, em hebraico, o Rolo da Torá, o livro sagrado dos Judeus, em voz alta, e a partir de então passam a integrar formalmente a comunidade judaica. 
Um dos pontos mais altos da festa é quando a moça ou o rapaz é levantado na cadeira, que significa elevá-lo a Deus. Durante o B´nai Mitzvá os jovens firmam o compromisso de manter os mandamentos da Torá, e de se tornar uma pessoa melhor. 
Ocorrem desde festas mais tradicionais até as mais modernas, com todo o requinte e sofisticação. 
Presentes 
Como presentes, a bat ou o bar mitzvah costumam ganhar livros religiosos ou de valor educacional, poupanças para garantir estudo no futuro e quantias em dinheiro. Em algumas famílias, tem-se o costume de dar valores múltiplos de 18, considerado o número da sorte. Se o aniversariante ganha 36, é sorte em dobro, e assim por diante.