sexta-feira, 30 de março de 2012

Análise especial - “Os antissemitas”

por João Pereira Coutinho, escritor português, doutor em Ciência Política e colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português: “A polícia francesa abateu Mohamed Merah, autor do massacre de sete pessoas em França. Sabemos pelos jornais que este jovem "extremista" (adoro eufemismos) não morreu descansado: ele gostaria de ter morto mais crianças judias. Atenção ao adjetivo: "judias". As três que ele assassinou em Toulouse não foram suficientes. A Europa está horrorizada com o caso. E eu, horrorizado com a Europa, apenas pergunto: mas que caso? O do regresso do antissemitismo assassino ao continente, dessa vez servido por fanáticos islamitas? Não vale a pena tanto espanto. E, para os interessados, aconselho leitura a respeito: o livro de GabrielSchoenfeld, "The Return of Anti-Semitism" (Encounter Books, 193 págs.), publicado em 2004. O terceiro capítulo da obra, sobre o regresso da besta antissemita à Europa depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial, vale o livro inteiro. Sim, a extrema-direita tem tido um papel relevante no assunto, sobretudo em países como a Rússia ou a Ucrânia. Mas em países ocidentais como o Reino Unido, a Alemanha ou a França, são os jihadistas caseiros que levam vantagem. Só na Alemanha, conta o autor, a polícia acredita que 60 mil "estrangeiros" (outro eufemismo para muçulmanos radicais) pertencem a 65 grupos terroristas com ligações à Al Qaeda ou organizações semelhantes. O que significa que, em momentos de particular tensão entre o Ocidente e o Islã (os atentados de 11 de setembro; a "segunda intifada" em Israel etc.) as coisas, digamos, sobem de tom. O leitor quer números? Voilá: quando rebentou a "segunda intifada" em setembro de 2000, registaram-se na Europa ocidental 250 crimes antissemitas nas primeiras semanas do mês - da violência física contra judeus à profanação de cemitérios, sem esquecer o desporto comum de destruir sinagogas. Em 2002, nas primeiras duas semanas de abril, a fasquia subiu para 360 crimes contra judeus ou instituições judaicas --e só estamos a falar da França. A queima de sinagogas, e em particular a redução a cinzas de uma sinagoga em Marselha, continuou vibrante. Não admira que, só nesse ano, 2.500 judeus tenham optado por abandonar o país. Muitos mais seguiram o exemplo na primeira década do século 21. O êxodo, agora, promete continuar.
Moral da história? Os crimes de Mohamed Merah não são uma anormalidade na escalada antissemita que a Europa tem permitido dentro das suas fronteiras. Pelo contrário: são a conclusão lógica de uma cultura de ódio reinante. E o pior de tudo é que essa cultura nem sequer é exclusividade de terroristas ou marginais. Ela é produzida e, pior que isso, legitimada pela "intelligentsia" europeia em suas colocações grosseiras sobre o conflito israelense-palestino. Lemos o "pensamento" do criminoso de Toulouse sobre esse conflito e ele não é substancialmente diferente de livros ou editoriais "respeitáveis" onde a Faixa de Gaza é apresentada como um novo Auschwitz; os israelenses como os novos nazistas; e os judeus como os eternos conspiradores para dominar o mundo (de preferência, manipulando a política de Washington). Não vale a pena explicar o que existe de paranóia e abuso nessas colocações. Exceto para dizer que elas excedem em muito qualquer crítica legítima - repito: legítima - que se possa fazer aos governos israelenses democraticamente eleitos. Aplicar aos judeus de hoje e ao seu estado categorias próprias da desumanidade nazista é o pretexto ideal para que os fanáticos se sintam autorizados a atuar em nome dessa repulsa. Mohamed Merah, no fundo, limitou-se a apertar o gatilho. Mas o veneno que existia na sua cabeça é plantado diariamente na Europa por insuspeitos humanistas (Publicado na Folha.com).

Shaul Mofaz é o novo líder do partido Kadima



O ex-ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, é o novo líder do partido Kadima. Ele derrotou Tzipi Livni, ex-ministra das Relações Exteriores. Em seu discurso após a vitória, ele prometeu "devolver o país ao caminho correto" e previu uma vitória do Kadima sobre o partido Likud, de Benjamin Netanyahu, no próximo pleito legislativo.

Punição maior para crimes de preconceito - O deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator da subcomissão da Câmara que trata do novo Código Penal, propõe dobrar a pena para homicídios causados por qualquer tipo de preconceito, que passaria para até 30 anos de cadeia. No mesmo projeto, o parlamentar cria a multa proporcional ao tamanho das empresas que cometerem crimes ambientais. Hoje esta multa está limitada a R$ 2,5 milhões. O novo Código Penal será votado em abril. Comente: envie sua opinião por e-mail ou poste sua mensagem noFacebook.
Frankfurt elege como prefeito um “judeu liberal” - De Marcos Guterman, no O Estado de São Paulo: “Numa prova de que, de fato, o mundo dá voltas, Frankfurt acaba de eleger como prefeito Peter Feldmann, um “judeu liberal”, como ele mesmo se define. O socialdemocrata Feldmann é o primeiro judeu a ser eleito prefeito na Alemanha desde que os nazistas foram derrotados. Ele disse que o fato de ser judeu não foi colocado em questão na campanha, o que, em sua opinião, demonstra que Frankfurt é uma “cidade aberta”. 

FONTE:

domingo, 25 de março de 2012

Aprendendo do Seder de Pessach para nossas vidas

Pêssach na Época do Templo

 
 Todo judeu tinha de oferecer o sacrifício pascal no Templo de Jerusalém por ocasião de três festas - Pêssach, Shavuot e Sucot. Pêssach era aquela que reunia o maior número de peregrinos: milhões de judeus vindos de todas as partes. Um mês antes de Pêssach todas as estradas levando a Jerusalém eram reparadas e todos os poços reabastecidos, para que os peregrinos pudessem ter todo o conforto possível. A alegria e o entusiasmo espiritual da população não tinha limites. O clímax acontecia no dia antes de Pêssach, quando a oferenda do cordeiro pascal iniciava-se, ao entardecer. Todos os sacrifícios pascais eram oferecidos durante uma única tarde!
Durante o tempo da oferenda, todos os devotos reunidos, liderados pelos levitas, entoavam salmos de agradecimento. Então os cordeiros pascais eram tostados, pois não era permitido fervê-los. À noite, o grupo familiar que se havia cotizado para trazer uma oferenda pascal, reunia-se em uma casa e celebrava o "sêder" junto, da mesma maneira que fazemos agora, exceto, é claro, que no lugar do "Zêroa" (osso do antebraço) que colocamos na travessa do sêder em lembrança do sacrifício pascal, partilhavam realmente do próprio cordeiro pascal.
Jerusalém era uma cidade jubilosa durante aqueles dias de Pêssach, e muitos não-judeus costumavam se dirigir para lá, vindos de perto e de longe, para testemunhar a maravilhosa celebração de Pêssach.
Nos tempos de hoje, celebrando o sêder no exílio e relembrando aqueles dias gloriosos na nossa pátria, quando o Templo estava em seu total esplendor, exclamamos ao iniciar o sêder:
"Este ano nós estamos aqui, mas que no próximo ano possamos celebrar na Terra de Israel," e concluímos o sêder com as palavras:
"No próximo ano em Jerusalém!"

Fonte:

A Propriedade da Terra

 


“Around the Maggid's Table”, Rabino Paysach J. Krohn
O Ramban (1195-1270), em sua famosa carta intitulada Igeret HaRamban, implora ao seu filho para que evite a raiva. A raiva, ele diz, é a raíz de muitas coisas ruins e faz com que as pessoas venham a cometer muitas transgressões, pois a pessoa fica mais apta a falar mal dos outros, a se tornar arrogante e a julgar erroneamente as pessoas. Ao invés disto, diz o Ramban, a pessoa deve pensar de onde veio e para onde irá no fim dos seus dias. Estes pensamentos farão com que a pessoa se afaste da raiva e aja com humildade.

Rabino Yissachar Frand descreveu um incidente ocorrido na época do Rabino Chaim de Volozhin (1749-1821), que nos ilustra bem a futilidade da raiva.

Duas pessoas tiveram uma calorosa discussão sobre um pedaço de terra. A terra em questão era adjacente ao campo de ambos, e cada um deles argumentava que ela fazia parte da sua propriedade. Nenhum deles estava disposto a escutar os argumentos do outro.

Finalmente decidiram procurar o conselho do Rabino Chaim de Volozhin. Ele escutou atentamente à explicação de ambas partes e disse que gostaria de ir com eles observar a propriedade em questão com seus próprios olhos, pois talvez isso o ajudasse a entender o ponto de vista de cada um.

Juntamente com o Rabino, os dois senhores chegaram ao referido local. Rabino Chaim estudou o terreno, observando onde ficava a propriedade de cada um e suas fronteiras, e escutou mais uma vez os argumentos dos dois, cada um dizendo enfaticamente que o pedaço de terra era seu.

De repente, Rabino Chaim abaixou-se colocando seu ouvido no solo. Os dois senhores ficaram espantados. "O que você está fazendo aí no solo?" perguntou um deles.

"Bom, eu escutei o ponto de vista de ambos a respeito deste pedaço da propriedade," respondeu o Rabino Chaim, "porém agora eu estava escutando o que a terra tinha a dizer a respeito disto."

Os dois homens pensaram que o Rabino Chaim estava brincando, e então um deles perguntou em tom de brincadeira, "Ok, então nos diga – o que a terra está dizendo?"

Rabino Chaim sorriu para eles e disse, "A terra não consegue entender sua raiva e visão limitada. Ela diz, 'Este fala que eu pertenço a ele, e o outro diz que não, que eu pertenço a ele. A verdade, é que eventualmente ambos pertencerão a mim!'"


Fonte:

sexta-feira, 23 de março de 2012

Já começaram os vídeos de Pessach ?

Esta Dor é de Todos Nós

 


Milhares de pessoas lotaram um cemitério de Jerusalém para se despedir das vítimas do tiroteio de segunda-feira em uma escola judaica em Toulouse, França, mortos pelo terrorista da Al Qaeda, Mohammed Merah.

Ambos os rabinos-chefes de Israel uniram-se a delegação rabínica de Toulouse, aos rabinos da comunidade e estudiosos de Torá de todo Israel, ao ministro do Interior israelense Yudi Edelstein, ao prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, o chanceler francês Alain Juppé e outros funcionários no funeral na manhã de quarta-feira, em meio a uma multidão de indivíduos de todas as esferas da vida que vieram compratilhar a dor e perda dos familiares do Rabino Jonathan Sandler, de 30 anos, de seus dois filhos, Aryeh, 6 e Gavriel, 3, e de Miriam Monsenego, de 7, filha do Rabino Yaakov Monsenego, diretor da escola Ozar Hatorah.

O Rabino Shimon Rosenberg, também compareceu para levar seu apoio, cujo neto Moshe Holtzberg ficou órfão quando terroristas invadiram e assassinaram o casal de shluchim de Chabad-Lubavitch Rabino Gavriel e Rivka Holtzberg, além de quatro de seus hóspedes, há três anos em Mumbai.

Os corpos das vítimas de Toulouse chegaram logo cedo ao aeroporto Ben Gurion de Israel n um vôo da El Al, e foram levados a Jerusalém nas ambulâncias da ZAKA.

No funeral, os discursos focaram na tragédia que mais uma vez se abate na comunidade judaica, vitima de ações de terroristas islâmicos.

O Rabino-chefe de Israel Shlomo Amar falou em termos épicos, classificando o ódio mostrado aos judeus como o mesmo mostrado na Torá que Esaú nutria por Jacob. A luta, entretanto, não durará para sempre, ele disse, pois D'us "vingará o sangue derramado" daqueles derrubados por terroristas.

O irmão mais velho de Miriam Monsenego, Avishai, implorou ao Todo-Poderoso que dê forças a seus pais para "suportar a pior provação que pode ser suportada", relatou a Associated Press.

Em suas observações, o locutor do Knesset, Parlamento Israelense, Reuven Rivlin, lamentou o fato de que o povo judeu "mais uma vez se encontra diante de animais selvagens com ódio em seus corações."

Juppé, declarou que seu país está fazendo tudo que está ao alcance para garantir a "segurança em nossas escolas e sinagogas, de modo que um ato criminoso, como este jamais ocorra novamente.”

No final da cerimônia, a viúva de Sandler Eva Sandler se aproximou-se dos túmulos do marido e dos filhos. Gritando tomada pela dor três palavras: "Voltem para casa!"


Todos nós emudecemos diante de mais uma tragédia que não é de Toulouse, nem da França, mas de todos nós. Todos estamos enlutados. Fazemos parte de um só corpo e uma única alma. Vamos rezar juntos pela elevação dos que partiram arrancados de suas vidas com tanta violência e para que D’us possa trazer o verdadeiro consolo aos enlutados de Tzion.

Ao nos aproximarmos de Pêssach, festa que celebra a nossa liberdade, que nossas preces sejam ouvidas e que o mundo inteiro possa libertar-se definitivamente dos promotores do terror e seus fanáticos seguidores, que todo o mal seja para sempre erradicado da Terra e a escuridão transformada em luz. Que o bem triunfe e que possamos estar juntos, de volta para casa, Be Shaná Azé Be Yerushalayim!


Fonte:

quinta-feira, 22 de março de 2012

Por que não-judeus precisam apenas de 7 mitsvot, ao passo que os judeus precisam de 613? índice

 
Parece-me que quanto mais refinada e espiritual uma pessoa é, menos precisa de mandamentos, pois ela própria entende o que é certo e errado. Assim como uma criança, que precisa de mais regras que um adulto. Seguindo essa lógica, por que não-judeus precisam apenas de sete mitsvot, ao passo que os judeus precisam de 613? 

RESPOSTA:
Por Tzvi Freeman
Você teve uma pista, mas perdeu a outra. Isso tem a ver com a sua linguagem. Chame-a de “fixação na coisa”.
Este é provavelmente o maior desastre da sua infância – não o de ser desmamado, não o de abandonar as fraldas, não o de sentar-se na carteira na primeira série – mas quando você aprendeu sobre coisas.

Não quero dizer “você aprendeu sobre as coisas do mundo.” Quero dizer, você aprendeu sobre a ideia de coisas. Você aprendeu que o mundo é feito de coisas, objetos, troços materiais que simplesmente “estão ali”. Mais tarde na vida, você começou a correr atrás dessas coisas, acumulando-as, ajuntando mais e mais quantidade de coisas para encher sua casa, seu quintal e sua garagem. A essa altura, o mundo inteiro foi reduzido em sua mente a nada além de uma caçamba repleta de coisas. Então até mesmo D'us acaba sendo definido como uma coisa – e você está tentando encontrar o local onde Ele se encaixa. Porque, afinal, todas as coisas se encaixam em algum lugar.

Quando você acordou para a vida quando criança pequena, não era assim. Não havia coisas. Havia apenas a experiência de ser. De sentir, de viver, de respirar e fazer. Gritar, mamar, arrotar. Aquilo tudo era real. Aquilo tudo é vida. As coisas não são reais, As coisas são ficção. Elas não existem. Nós as criamos.

O Nascimento da “Coisisse”
Como as coisas vieram a existir? Aqui está minha ideia sobre isso.

No princípio, não havia coisas. Toda a humanidade conhecia a vida como faz uma criança pequena, até que cresça e fique mais esperta. Mas então alguém entrou em sua cabeça para desenhar todo o tipo de coisas que tinha. Por fim, os desenho se tornaram glifos, um recurso esperto para comunicação esotérica. Os amantes dos glifos – tais como os sacerdotes de culto do antigo Egito – criaram milhares de glifos para representar a ideia de uma “coisa” – uma foto estática de uma coisa distinta num momento congelado do tempo. A coisa nasceu. E o mundo jamais foi o mesmo.

Provas? Porque no hebraico antigo, bíblico, não há palavra para troço. Ou coisa. Nem objeto ou algo que o valha. No hebraico primitivo, cru, você não diz: “Ei, cadê aquela coisa que eu coloquei ali?” Você diz: “Onde está o desejado (chefetz) que eu coloquei aqui?” Você não diz: “O que é aquela coisa?” – você diz: “O que é aquela palavra?” Isso é o mais próximo que você consegue chegar da ideia de coisa: uma palavra. Toda a realidade é feita de palavras. Olhe na história da criação: todo o céu e a terra nada mais são que palavras.

De fato, no antigo hebraico, também não há realmente nomes. Nos idiomas como o inglês, ou português, os substantivos são os amos e os verbos são seus escravos, com adjetivos e formas associadas dançando em volta para servi-los. No hebraico, os verbos mandam. Grande, pequeno, sábio, tolo, rei, sacerdote, olho, ouvido – todos esses soam como coisas, mas no hebraico são formas de verbos. De fato, segundo Rabino Yeshayahu Horowitz (1560-1630), autor do clássico Shnei Luchot HaBrit, tudo em hebraico é realmente um verbo. Tudo é um evento, um acontecimento, um processo – fluindo, movendo-se, nunca estático. Assim como quando você era uma criança pequena.

Em hebraico, não há sequer o verbo no tempo presente. Há particípios, mas a ideia de um tempo presente somente surgiu mais tarde. No hebraico real, nada jamais é – tudo é movimento.

Isso se encaixa, porque o hebraico não foi escrito em glifos. O hebraico foi o primeiro idioma que conhecemos a ser escrito com símbolos que representam sons, não coisas. Com o alfabeto hebraico – a mãe de todos os alfabetos – você não vê as coisas, você vê sons. Até o processo de leitura é diferente: quando você lê glifos, a ordem não importa tanto. Você apenas olha e tudo está ali. Até os modernos glifos chineses podem ser escritos em qualquer direção. Com um alfabeto, a sequência é tudo. Nada tem significado por si mesmo. Tudo está no fluxo.

Entre no Fluxo
O fluxo é real. As coisas não são reais. Pergunte a um médico: quanto mais examinamos as coisas – aquilo que eles chamam de matéria – vemos que não estão ali. Tudo que realmente existe são os eventos: ondas, vibrações, campos de energia. A vida é um concerto, não um museu.
Pense sobre escrever música, em oposição a pintar um retrato. O artista dá um passo para trás e comtempla sua arte, sua captação imóvel de um momento congelado – e contempla tudo de uma só vez. Então ele educadamente pede ao modelo para fazer o favor de voltar à pose daquilo que agora se tornou a realidade, o retrato. Um retrato daquilo que é, mas nunca foi.
Um compositor de música não pode fazer isto. Você não pode congelar um momento da música – ela se desvanece assim que você tenta fazer isto. Como a coisa fictícia que chamam de matéria: congelada ao zero absoluto, sem energia, sem movimento, não existe mais. Porque, na verdade, tudo que existe é o fluxo do ser.

O Nome
O fluxo do ser: agora você encontrou D'us. De fato, em hebraico, este é o Seu Nome. O Nome de D'us é uma série de quatro letras que expressam todas as formas do verbo de todos os verbos, o verbo ser: é, foi, sendo, será, vai ser, fazendo ser, deveria ser – todos esses estão naquelas quatro letras do nome de D'us. Como disse D'us a Moshê quando ele perguntou Seu nome; “Eu sou aquilo que serei.”

Em nossas línguas modernas aquilo não funciona. Escorregamos rapidamente para a armadilha da “coisisse” outra vez. Quem é D'us? Respondemos: “Ele é Aquele que foi, é e será.”

Aqui vamos nós outra vez com a história de “a coisa que é”. Não, D'us não é uma coisa que é, foi ou será. D'us é o “ser” em si. Uau! A frustração da linguagem. Precisamos de palavras novas. Em hebraico você pode conjugar o verbo ser em todas as maneiras e ainda mais. Talvez no inglês ou português um dia façamos o mesmo. Até lá, somos como artistas usando aquarelas para imitar Rembrandt: como músicos tentando tocar músicas do meio-oeste em Dó Maior.

E a prova: fazemos perguntas que fazem sentido somente em inglês ou português, mas no hebraico são totalmente absurdas. Assim como: “D'us existe?” Em hebraico, há uma tautologia, algo equivalente a “A existência existe?”

Não há necessidade de “acreditar” neste D'us – se você sabe sobre o que estamos falando, você simplesmente sabe. Você saberá, também, que não há nada além desse D'us – o que há que fique de fora da “sersisse”?

Quanto à fé e à crença, estão reservadas para coisas maiores. Como acreditar que esta notável Sersisse que é tudo que importa, sabe, tem compaixão, pode ser compreendida. Em outras palavras, dizer que a realidade é uma experiência carinhosa, o que se resume a dizer que a compaixão é real, o propósito é real, a vida é real. Isso é algo em que temos de acreditar. Mas a existência de D'us – como a maioria das ideias sobre as quais os homens discutem – esta é apenas uma questão de semântica.

Pense simplesmente: Você acorda pela manhã e, antes mesmo do café, há. Realidade, existência. Não “as coisas que existem”, mas a existência em si mesma. O fluxo, O infinito fluxo de luz e energia. Do ser, da existência. Do é. Pense em tudo que flui da “sersisse” num ponto único, perfeitamente simples. Entre nele, comungue com ele, fale com ele, torne-se um com ele, - isso é D'us. 

FONTE:

Reportagem especial - Do blog do jornalista Marcos Guterman, no O Estado de São Paulo: “As crianças palestinas estão vingadas?

 

Só na cabeça de dementes pode haver equivalência moral entre a morte de crianças palestinas em meio a combates em Gaza e a morte de crianças judias que estão indo para a escola na França, muito longe de qualquer front. Mas a questão vai além da simples demência. Se todas as informações se confirmarem, pode-se dizer que esse homem não agiu movido exclusivamente por sua suposta loucura. Ele agiu animado pela certeza moral que embebe o discurso dos radicais árabes e islâmicos segundo o qual tudo é permitido, até matar crianças a sangue frio, quando se trata de enfrentar o “Mal” – encarnado no Ocidente e em uma de suas expressões mais significativas, que é Israel. Segundo testemunhas, uma das meninas mortas pelo assassino de Toulouse tentou correr para se salvar, mas ele a agarrou pelos cabelos e atirou em sua cabeça. Essa menina, de apenas oito anos, foi despida de sua qualidade humana; tornou-se uma espécie de alvo inanimado, um objeto que traduzia todo o ódio do assassino pelo que o Ocidente representa – o Iluminismo, a modernidade, o capitalismo, o ceticismo, o questionamento dos dogmas religiosos, a irreverência, ou seja, tudo o que desafia o mundo ideal romântico dos que rejeitam como “demoníacos” a democracia e o progresso. Quando qualquer criança, em qualquer parte do mundo, pode ser assassinada apenas por que é judia, o problema não diz respeito apenas aos judeus, mas a toda a humanidade”. 

Netanyahu: propaganda anti-Israel foi a causa do ataque de Toulouse

 
O francês de origem argelina, Mohamed Merah, de 24 anos, acusado de matar quatro pessoas em uma escola judaica em Toulouse, afirmou que deve se entregar ainda hoje (dia 21 de março) à Polícia francesa. Ele estava sendo investigado há vários anos pelos serviços secretos do país e, de acordo com o presidente Nicolas Sarkozy, pretendia executar novo ataque hoje. As autoridades acreditam que o criminoso tenha ligação com a rede Al Qaeda e com os fundamentalistas “salafistas”. O jovem não demonstra nenhum arrependimento, a não ser por não ter feito mais vítimas, e se vangloria de ter "colocado a França de joelhos". Ele justificou o atentado alegando que queria "vingar crianças palestinas".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que a "propaganda contra Israel e os judeus" é a causa de ataques como o realizado em Toulouse. "Acho que devemos lutar contra essa enorme propaganda contra Israel e os judeus em qualquer lugar, propaganda contra inocentes, que leva a realização de atos bárbaros". Ele também criticou a alta representante europeia de Política Externa, Catherine Ashton, por ter comparado o atentado de Toulouse com a situação em Gaza: "A tragédia e a crueldade desse caso são notórias, trata-se da execução de uma menina de oito anos. A selvageria e a falta de humanidade do assassino são difíceis de compreender. O que mais me indignou foi a comparação entre um massacre contra crianças e uma atividade defensiva cirúrgica do Exército para acabar com terroristas que usam menores como escudo", explicou, acrescentando: "se fizermos esta distinção moral, teremos derrotado o terrorismo, mas se permitimos uma analogia tão mentirosa, então eles terão ganho". Já Catherine Ashton assegurou que as palavras dela sobre o ataque à escola judaica foram "muito distorcidas". Esclareceu que se referiu "a tragédias que custaram a vida de crianças" e ainda garantiu que não fez nenhuma comparação entre as circunstâncias desse ataque e a situação em Gaza. "Estou muito triste pela distorção de minhas palavras. Condeno sem reservas os terríveis assassinatos na escola Ozar Hatorah em Toulouse e transfiro meus sentimentos às famílias e amigos das vítimas, ao povo da França e à comunidade judaica".
O primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, afirmou que é preciso parar de usar a causa palestina como justificativa para atos de terrorismo. "É o momento destes criminosos deixarem de reivindicar seus atos terroristas em nome da Palestina e que parem de pretender defender a causa de suas crianças, que apenas desejam uma vida decente, para eles mesmos e para todas as crianças do mundo. Nosso povo palestino e seus filhos, que não podem aceitar crimes contra vidas inocentes, condenam categoricamente estes crimes terroristas".
As vítimas foram enterradas no cemitério Har Hamenuhut, em Jerusalém, em cerimônia marcada pela emoção e pela dor. "Todo Israel está de luto e chora a morte de crianças inocentes e de um pai dedicado", lamentou o vice-chanceler israelense, Danny Ayalon, ao receber o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, que viajou especialmente de Paris para a cerimônia. O representante francês afirmou: "É o sangue de nossos dois países que foi derramado na escola Ozar Hatorah". E garantiu: "Estamos comprometidos com o mesmo vigor com a luta contra o terrorismo, este flagelo que atinge muitas regiões do mundo, infelizmente inclusive a França". As três crianças assassinadas tinham dupla nacionalidade: francesa e israelense.

FONTE:

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ataque em Toulouse

 

Por Joshua Runyan


19 de março, 10h50

A unida comunidade judaica de Toulouse entrou em pânico na manhã dessa segunda-feira, a paz da cidade no sudoeste da França abalada por tiros fatais. Enquanto a polícia contava as balas, as autoridades anunciavam os nomes dos mortos, que tiveram a vida roubada a poucos passos da Escola Ozar Hatorah, quando um homem dirigindo uma motocicleta abriu fogo.

O assassino desconhecido – a quem relatos estão afirmando que pode ter ajudado num ataque semelhante ocorrido recentemente contra soldados franceses na área – levou as vidas de Jonathan Sandler, um professor de estudos judaicos de 30 anos, seus filhos de três e de seis anos de idade, e a filha de um outro membro do corpo docente. As crianças estavam esperando um ônibus para levá-las até a escola primária Chabad-Lubavitch Gan Rashi.

“Toda a comunidade está ansiosa e com medo”, relatou Rabi Haim Hilel Matusof da Jeunesse Lubavitch-Beth Habad Toulouse, um centro Chabad na cidade. “Aquela escola fica numa pequena rua de uma área calma. É um local muito seguro. Ele tinha de saber que era uma escola judaica.”

Um garoto de 15 anos, cujo nome hebraico é Aharon ben Leah, foi ferido no ataque. Matusof pediu para que pessoas no mundo inteiro rezem pela sua recuperação.

“As escolas, é claro, ficarão fechadas pelo resto do dia”, disse o rabino, acrescentando que psicólogos e conselheiros já estavam ajudando os alunos e suas famílias a lidarem com a crise. “As pessoas irão à sinagoga esta noite, procurando entender essa horrível tragédia.”

Um amigo de Sandler, que se identificou para os repórteres como Baruch, disse ter falado com ele pouco antes do ataque.

“Eu o vi, cumprimentei, e fui na direção da escola. Segundos depois, ouvi os tiros. Não me virei para olhar, e comecei a correr na direção da sinagoga que fica a cerca de 10 a 15 metros do portão de entrada,” detalhou ele. “Todos começaram a gritar… e fugiram. A certa altura o atirador entrou na escola e começou a atirar lá dentro. Nós nos escondemos sob a sinagoga num abrigo, até que a polícia chegou e nos escoltou para fora.”

A cena fora da escola poderia ser descrita como caótica, com grupos de pais e alunos amontoados, alguns em choque, outros chorando. Meninos maiores colocaram suas caixas de oração conhecidas como tefilin, carregando seus xales apressadamente pela rua.

O Presidente francês Nicolas Sarkozy e seus oponentes nas eleições desse ano cancelaram efetivamente a campanha, e Sarkozy ordenou mais segurança nas escolas judaicas em todo o país. Ele visitou Toulouse com funcionários da comunidade judaica.

Chamando o fato de um ataque a toda a comunidade da França, Sarkozy disse àqueles reunidos numa conferência de imprensa organizada às pressas na escola que os investigadores deveriam levar os responsáveis à justiça. “Nós os encontraremos,” prometeu ele.

O CRIF, Conselho Representante das Instituições Judaicas Francesas, condenou o ataque e expressou revolta por atingir crianças, relatou Haaretz.

“Não temos dúvidas de que o ataque foi antissemita. Isso com certeza,” disse Meir Habib, membro da diretoria da CRIF. “Matar crianças só porque são judias é um terror inimaginável. São crianças inocentes.”

O ataque tem semelhanças com um ataque feito em 10 de março a um fuzileiro em Toulouse, no qual um atirador numa motocicleta abriu fogo. Na semana passada, um atirador numa motocicleta matou dois outros fuzileiros em Montauban, a cerca de 50 quilômetros de distância. Especialistas forenses disseram que provavelmente a mesma arma foi usada nos ataques anteriores.

Em Jerusalém, funcionários israelenses condenaram unanimemente o ataque, expressando confiança de que as autoridades francesas fariam uma investigação rigorosa.

“Não importa se foi um ataque terrorista ou um crime de ódio,” disse o Ministro da Defesa Ehud Barak, “a perda de vidas é inaceitável.”





FONTE:

terça-feira, 20 de março de 2012

Do blog do jornalista Reinaldo Azevedo: “Uma aula de civilização e tolerância com o judeu ortodoxo que defendeu a presença de crucifixos nas escolas Italianas; a causa perdia por 17 a zero; ele virou o tribunal para 15 a 2.

 

Querem uma aula de tolerância e civilidade? Então leiam a entrevista que o advogado Josph Weiler, que defendeu o direito das escolas italianas de exibir o crucifixo, concedeu em setembro do ano passado ao jornal português “Público”. Ele é judeu ortodoxo. A entrevista é longa, mas se trata de um dos mais brilhantes exercícios de tolerância que já li. Uma pena o doutor Wadih Damous, presidente da OAB-RJ, não ter sido contratado para o outro lado. Imaginem alguém que defendesse que até o patrimônio cultural fosse “limpado” da herança cristã. Antes da íntegra da entrevista, destaco alguns trechos em azul para despertar a curiosidade.
Sobre as leis francesas, que proíbem a exposição de qualquer símbolo religiosa:“Sim… As crianças podem ir para a escola e usar uma t-shirt com uma fotografia de Che Guevara, podem ter escrito Love and Peace, podem ter um insulto a George Bush, qualquer posição política ou ecológica, podem levar o triângulo cor-de-rosa pelos direitos dos gays. A única coisa que não podem levar é a cruz, a estrela de David e o crescente.”
Sobre liberdade religiosa“Não podemos permitir que a liberdade de [ter ou não] religião ponha em causa a liberdade religiosa. Temos que descobrir a via média. E essa é dizer não, se alguém quiser forçar outro a beijar ou a genuflectir perante a cruz. Mas, se houver uma cruz na parede, direi aos meus filhos que vivemos num país cristão. Somos acolhidos, não somos discriminados. A Dinamarca tem uma cruz na bandeira, a Inglaterra e a Grécia igual. Vamos pedir que, por causa da liberdade religiosa, tirem a cruz das bandeiras? Absurdo!…”
Sobre a cristofobia
As pessoas falam de liberdade religiosa, mas, de facto, muitas vezes é cristofobia. Não é neutralidade, é antes porque não gostam do cristianismo e da Igreja. Sei por quê: a Igreja tem uma história complicada…”
A cruz e a tolerânciaNa Grã-Bretanha, o chefe de Estado é o chefe da Igreja, há uma Igreja de Estado, o hino nacional é uma oração. Quem diria que o país não é tolerante? É o país de eleição para muitos muçulmanos emigrantes. O facto de haver uma identidade religiosa e uma prática de não-discriminação é um sinal de uma sociedade pluralista e tolerante.
De certa maneira, a Grã-Bretanha com a cruz é mais pluralista e tolerante do que a França, sem a cruz. Porque na Grã-Bretanha, apesar de afirmar a identidade religiosa do Estado, é não discriminatória em todos os aspectos da vida. Financia escolas anglicanas, mas também católicas, judias, muçulmanas e seculares. Os países laicos financiam escolas seculares, mas não escolas religiosas. Quem é mais tolerante e pluralista?

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Leiam a íntegra da entrevista.
Judeu convicto, especialista em Direito Constitucional, Joseph Weiler defendeu perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos o direito de a Itália ter crucifixos nas paredes das escolas e o direito da França de não os ter. E diz que esse pluralismo europeu é que é bom. Ganhou por 15-2.
Tinha acabado cinco horas de aulas, pediu apenas um prato de batatas fritas, que foi petiscando enquanto conversava. Joseph Weiler, nascido em 1951, é um judeu convicto. O que não o impediu de defender a possibilidade de haver (ou não) crucifixos nas paredes das escolas. Virou a opinião do tribunal, dos anteriores 17 a favor de retirar os símbolos religiosos da parede, para uns claríssimos 15 contra. Apenas dois juízes mantiveram a decisão anterior. E adverte: nem a Itália nem a França são neutros em matéria religiosa. Mas ambos devem educar para o pluralismo.
Especialista em Direito Constitucional europeu, Weiler é professor da Católica Global School of Law, da Universidade Católica Portuguesa, e, por isso, vem a Portugal várias vezes por ano.
Tem publicado Uma Europa Cristã (ed. Princípia). E publicará, até final do ano, um livro sobre o processo que condenou Jesus à morte. Nele defende que “o sentido de justiça, na civilização ocidental, provém do julgamento de Jesus”, explica ao Segundo Caderno de Público. O Papa disse, no seu último livro, que os judeus não foram responsáveis pela morte de Jesus. Weiler, judeu, irá dizer o contrário. E explicar por quê.
Público - [O sr.]Defendeu o crucifixo nas salas de aula italianas…
Jospeh Weiler -
 Tive uma vitória famosa, 15-2…
Defendeu essa posição como jurista ou como judeu e crente, em solidariedade com outra fé?Depois da decisão, recebi centenas de e-mails. Muitos diziam “obrigado por defender o crucifixo”. Muitos outros, vindos da comunidade judaica, perguntavam: “Como pode o filho de um rabi defender o crucifixo?” A todos, aos que me felicitavam ou que me condenavam, respondi o mesmo: “Não defendi o crucifixo. Defendi o direito da Itália a ser Itália e o direito de França, onde a cruz é proibida, a ser a França.”
Ou seja, a possibilidade de leis diferentes…Acredito no valor do pluralismo nas relações entre a Igreja e o Estado, que existe na Europa, onde temos vários modelos: o modelo francês, o britânico, o alemão, etc. Isso é parte da força da civilização europeia. A decisão da câmara, por 17 contra zero, dizendo que a Itália estava a violar a Convenção Europeia por ter uma cruz nas salas de aula, parecia-me tão drástica que forçaria todos a ser como França. Isso parecia-me completamente contra o pluralismo e tolerância que existe na Europa.
E escreveu o editorial no European Journal of International Law
Sim. Dizendo que era uma decisão terrível. Como podia o tribunal decidir que a tradição na Grã-Bretanha, na Alemanha, em Malta, na Grécia ou na Dinamarca era contra os direitos humanos e a Convenção Europeia de Direitos Humanos? Perguntaram-me se queria ir ao tribunal. Concordei, com uma condição: seria pro bono, não queria que dissessem: “Olha o judeu, por dinheiro até é capaz de defender a cruz”. [ri] Decidi fazê-lo, porque acreditava que era a atitude certa.
Não foi só a Itália a defender essa posição. 
Oito estados intervieram, convidando-me. A Itália defendeu a própria posição. O facto de ser judeu é irrelevante. Sou constitucionalista praticante e tal parecia-me errado, no âmbito da Convenção Europeia de Direitos Humanos. Há duas coisas mais importantes, que me parecem erradas, no âmbito da Convenção e que me ajudaram a reagir: estou verdadeiramente cansado do argumento, repetido à exaustão, de que o Estado é neutro, em matéria religiosa, quando não permite o crucifixo na parede.
E não é assim?
Tentei convencer a câmara de que esse é um argumento errado. Se o Estado quer que a cruz esteja na parede, não é neutro. De certa maneira, é tomar uma posição sobre a importância do cristianismo na identidade do país. Ou seja, há algo na identidade do país que se quer valorizar com a cruz na parede e essa não é uma posição neutral.
Mas quando o Estado, como em França, proíbe a cruz, não está a ser neutro. Porque não há uma parede nua, vazia. Qualquer coisa pode ser colocada na parede: se amanhã houver uma maioria comunista, podem dizer que em todas as escolas tem que haver uma foice e um martelo.
Podem?
Sim, e não há nada na Constituição que o impeça: pode ter uma fotografia de Karl Marx na parede, pode ter um sinal de paz, uma posição ecológica… De facto, em todas as escolas primárias de França, está escrito: Liberté, egalité, fraternité - oslogan mobilizador da Revolução Francesa.
Eu gosto disso, mas não é neutral. Se for monárquico, não é neutro, seguramente. Qualquer símbolo é permitido nas paredes: Karl Marx e Groucho Marx; o sinal de paz, a foice e o martelo, o símbolo “nuclear não”. Há apenas um que não é permitido: a cruz, um símbolo religioso. Como é que isso é neutro?
Nem a estrela de David nem o crescente islâmico…
Sim… As crianças podem ir para a escola e usar uma t-shirt com uma fotografia de Che Guevara, podem ter escrito Love and Peace, podem ter um insulto a George Bush, qualquer posição política ou ecológica, podem levar o triângulo cor-de-rosa pelos direitos dos gays. A única coisa que não podem levar é a cruz, a estrela de David e o crescente.
Nem podem vestir o chadorNão… Isso não é ser neutro, é dar uma mensagem clara às crianças: tudo é permitido, excepto um símbolo religioso.
Na minha arguição, não disse que a França viola a Convenção Europeia por ter essa regra. Na tradição europeia, o Estado laico é uma opção respeitável. Mas não pretendam que seja neutro. Ele diz que tudo é permitido, excepto a cruz ou a estrela de David, e está a dar uma mensagem sobre religião.
No sistema italiano, apesar da cruz, há um dever educacional de respeitar os ateus e outras religiões. No sistema francês, onde se proíbe a cruz nas paredes mas se permite tudo o resto, há o dever de explicar aos estudantes que, apesar de se permitirem todos os símbolos excepto os religiosos, se deve ensinar o respeito pelos crentes. Nenhum dos sistemas é neutro. Em ambos está implícita uma espécie de preconceito. E em ambos é tarefa do sistema educativo contrabalançar as coisas para que a escola não ensine o preconceito mas a tolerância.
Esse era o seu primeiro argumento…
O segundo era: acreditamos na autodeterminação como direito fundamental. Acreditamos no direito de os britânicos serem britânicos e de os irlandeses serem irlandeses. A razão por que temos a Irlanda independente da Grã-Bretanha, em 1921, é porque os irlandeses são diferentes dos ingleses.
Como podemos imaginar a identidade irlandesa sem o catolicismo? No preâmbulo da Constituição irlandesa, diz: “Acreditamos que o Divino Senhor Jesus Cristo é a fonte de todo o dever, justiça e verdade.” Isto é o que são os irlandeses. O que vamos dizer-lhes? Não permitimos um sentido de nacionalidade que tem um tal conteúdo religioso?
O que é bonito na Europa, mesmo apesar da Constituição irlandesa, é que não há discriminação por causa da religião. Um judeu pode ser primeiro-ministro. Como um muçulmano ou um ateu. E aceitará que é impossível falar da identidade irlandesa sem o catolicismo e a cruz. Para o bem e o mal.
Mas é possível também que as sociedades mudem?Mas compete às sociedades mudar. Na minha arguição - que é curta, eu só tinha 20 minutos -, dizia que, se um dia os ingleses decidirem deixar de ter o Anglicanismo como religião oficial, podem fazê-lo. Não é um país religioso, a maior parte dos britânicos não é religiosa. Mas faz parte da sua identidade.
Os suecos mudaram a Constituição e decidiram que a Igreja Luterana deixaria de ser a religião estabelecida no país. Mas foram eles que definiram a sua identidade sueca, não foi Estrasburgo. Não compete a Estrasburgo dizer que eles não podem ter uma cruz na bandeira. Eles deixaram de ter a Igreja oficial mas mantiveram a obrigação de o rei ser um luterano. O símbolo do Estado tem que ser um luterano.
Na sua arguição, afirmou também que este é um conflito entre o direito individual e o Estado. No caso italiano, tratou-se precisamente de uma mãe ofendida pela presença da cruz…Em muitos casos, temos um conflito entre diferentes direitos fundamentais. O hino nacional inglês é uma oração: “God Save the Queen”, dá-lhe vitórias e glórias. Na escola, canta-se o hino nacional. E se houver um estudante que diz “sou ateu, não creio em Deus e não quero cantar uma oração”? O direito individual estará comprometido se a escola forçar esse estudante a cantar o hino nacional e se o ameaçar de expulsão. Ninguém pode ser forçado a fazer um acto religioso, uma oração, mesmo quando não acredita…
Pode ser um republicano…Claro, não tem que dizer “Deus salve a rainha”. Isso eu aceito. Mas não aceito que esse estudante ou a sua mãe digam que mais ninguém deve cantar o hino. É um compromisso simpático: ele tem o direito de ficar em silêncio, os outros o direito de cantar. E todos têm direito à liberdade religiosa.
A minha mãe cresceu no Congo Belga. A única escola para brancos era um convento católico. Os pais dela fizeram um acordo com as freiras: cada vez que elas dissessem Jesus, a minha mãe diria Moisés. É um bom compromisso.
Não podemos permitir que a liberdade de [ter ou não] religião ponha em causa a liberdade religiosa. Temos que descobrir a via média. E essa é dizer não, se alguém quiser forçar outro a beijar ou a genuflectir perante a cruz. Mas, se houver uma cruz na parede, direi aos meus filhos que vivemos num país cristão. Somos acolhidos, não somos discriminados. A Dinamarca tem uma cruz na bandeira, a Inglaterra e a Grécia igual. Vamos pedir que, por causa da liberdade religiosa, tirem a cruz das bandeiras? Absurdo!…
É por causa disso que fala de argumentos iliberais?
Sim, porque o ponto de vista liberal é, muitas vezes, iliberal. As pessoas falam de liberdade religiosa, mas, de facto, muitas vezes é cristofobia. Não é neutralidade, é antes porque não gostam do cristianismo e da Igreja. Sei por quê: a Igreja tem uma história complicada…
É também por causa disso?
Claro. Compreendo, mas não devemos mascarar os factos. Vivemos numa sociedade em que algumas pessoas são religiosas, outras não. A questão é como vivemos juntos. Não podemos pretender que, se negarmos todas as religiões no espaço público, isso é neutro. É o que faz a França, mas não é o único modo de o fazer.
Então deveria ser possível ter uma cruz na sala de aula e educar os estudantes para o pluralismo?
Absolutamente. Seria uma lição de pluralismo. Porque diríamos: apesar de ter uma cruz na sala de aula ou uma cruz nas bandeiras, permitimos que um primeiro-ministro seja muçulmano ou judeu. A Itália teve primeiros-ministros, generais e ministros judeus.
Na Grã-Bretanha, o chefe de Estado é o chefe da Igreja, há uma Igreja de Estado, o hino nacional é uma oração. Quem diria que o país não é tolerante? É o país de eleição para muitos muçulmanos emigrantes. O facto de haver uma identidade religiosa e uma prática de não-discriminação é um sinal de uma sociedade pluralista e tolerante.
De certa maneira, a Grã-Bretanha com a cruz é mais pluralista e tolerante do que a França, sem a cruz. Porque na Grã-Bretanha, apesar de afirmar a identidade religiosa do Estado, é não discriminatória em todos os aspectos da vida. Financia escolas anglicanas, mas também católicas, judias, muçulmanas e seculares. Os países laicos financiam escolas seculares, mas não escolas religiosas. Quem é mais tolerante e pluralista?
Evocou a herança cristã da Europa, debatida a propósito da Constituição Europeia. Se ela tivesse avançado, também devia referir a herança judaica e muçulmana e a Revolução Francesa?Deveria ter uma referência às raízes cristãs.
E judaicas e muçulmanas. Na Península Ibérica, por exemplo…Na Europa, também há vegetarianos. É uma questão de grau. Temos que mencionar judeus, muçulmanos, baha”ís? Eu também falaria de raízes judaicas e muçulmanas na cultura hispânica. Mas, na Europa, a maior parte é cristã. Não falaria de raízes cristãs no Egipto, mesmo havendo uma minoria cristã no país.
De um ponto de vista cultural, o cristianismo jogou um papel decisivo na definição da civilização europeia. Para o bem e para o mal. As raízes cristãs são também a Inquisição, judeus queimados. Quando eliminamos as raízes cristãs, obliteramos também a memória das coisas más que a cristandade fez.
Não há uma cidade na Europa sem uma catedral, onde o museu não esteja cheio de pintura sacra. E os direitos humanos não derivam apenas da Revolução Francesa, derivam da tradição judaico-cristã. Porque queremos negar isso? O que se vê no Prado, no Museu Gulbenkian? Madonna con bambino… Isso não é a Europa? É um absurdo.
É possível coexistir a laicidade francesa e outros modelos?Claro, essa é a riqueza da Europa. A Europa lidera pelo exemplo, não pela força. Gostaríamos que por todo o mundo houvesse democracias pluralistas e tolerantes. Que possibilidades há de persuadir alguns países muçulmanos a abraçar o pluralismo se dissermos que a religião deve ficar na esfera privada?
Podemos dizer à Arábia Saudita: podem tornar-se uma democracia, reconhecer os direitos humanos e manter a vossa identidade muçulmana. Reparem no que se passa na Grã-Bretanha, reparem no pluralismo europeu: há um modelo francês, um britânico, um grego. Não somos apenas como os franceses.
Tem amigos entre os católicos conservadores, mas também defende os direitos dos homossexuais, o que não é simpático para esses católicos…Que posso eu fazer? Vieram ter comigo, quando começaram a falar dos direitos dos homossexuais. A questão não era o casamento homossexual, mas porque têm os homossexuais de ser discriminados? Não há razão para isso.
Mesmo hoje, ensino os meus alunos como crente, mas digo-lhes: ninguém deve perder o emprego por ser homossexual, a ninguém deve ser negado alojamento por ser homossexual. Nos campos nazis, exterminaram os judeus e os homossexuais. Não posso esquecer isso.
Por Reinaldo Azevedo


 
advogado Josph Weiler