Meu bisavô, o velho Isaac Bernsztein, sentado numa cervejaria de Munique, fumava seu charuto e entornava alguns litros de cerveja bávara. Corria o ano de 1925. Seu amigo, Yankale Rozenfunef (era assim que se chamava aquele ancião judeu e livreiro que plantava rosas e tinha cinco filhos), acabara de passar pela porta de madeira e vidro da cervejaria e, rapidamente sentou-se à mesa de meu bisavô e disse-lhe:
- Isaac, trouxe-lhe uma grande novidade para ler. Aí está este livro grosso, escrito por um soldado raso do nosso exército. Sabe, ele escreveu sobre você e sobre mim. Escreveu sobre nossas famílias. Escreveu sobre o rabino, sobre o banqueiro, sobre o comerciante, sobre o sapateiro, sobre o alfaiate e sobre o nosso pessoal que vive de plantar e colher. Nenhum ficou de fora. Não citou nomes mas escreveu que nós todos juntos, somos culpados por tudo o que acontece de ruim no mundo. Escreveu que nós somos um tipo diferente. Uma espécie piorada de gente que se pode comparar com ratos e baratas. Ele escreveu que na Alemanha a falta de empregos e de comida para tanta gente é culpa dos judeus. Culpa minha e sua, Isaac! Eu que nada mais faço além de recolher livros velhos para vendê-los no sebo. Imagine só, culpado pelas desgraças da Alemanha! O que vamos fazer agora?
Meu bisavô, condecorado na Primeira Guerra Mundial, por atos de bravura, deu de ombros e respondeu para Rozenfunef: - Lá vem você com este medo judeu! Somos ou não somos alemães? Pagamos ou não pagamos impostos. Lutamos ou não lutamos contra os inimigos ingleses e franceses? Nós somos iguais a qualquer outro alemão. Ninguém vai fazer mal a um general condecorado por atos de bravura e muito menos a meus amigos e nossos familiares. Fique quieto e se não quiser tomar um gole, peça um café e não me aborreça mais.
O livro era o Mein Kampf. O soldado raso era Adolf Hitler. Os dois amigos judeus da cervejaria, foram dois dos seis milhões de judeus mortos pelos nazistas no episódio conhecido como Holocausto, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial.
O tempo passou. A Alemanha perdeu a guerra. Os nazistas ou foram presos, ou escaparam ou já morreram. Não restam muitos originais.
Hoje existem os neonazistas.
Na mesma Baviera de Adolf Hitler, em pleno limiar do século XXI, sob as nossas barbas, inicia-se agora uma nova cruzada antijudaica, sob o pretexto de cuidados com as criancinhas. Estão mirando na circuncisão, prática religiosa judaica que define a pertinência ao judaísmo através do pacto de D'us com nosso patriarca Abrãao. Os avós e os bisavós desta gente que hoje tem tanta pena das crianças judias, não hesitaram em matar cerca de um milhão e quinhentas mil destas, no período nazista, em toda a Europa. Hoje, seus netos e bisnetos estão preocupados com o prepúcio judaico. Chegam, durante os debates que tem sido travados na justiça alemã e nas casas parlamentares, ao cúmulo de acusarem os judeus de crime sexual contra seus recém-nascidos que passaram pela circuncisão.
Nós não podemos na opinião deles, dar curso ao pacto da circuncisão. Eles puderam matar seis de nossos milhões de almas, para nos roubar. Hoje se dizem envergonhados do que seus pais e avós fizeram. Agora vem com um ataque muito sutil que, inclusive, envolve gente bem intencionada, Gente que realmente pensa o que está discutindo. Apenas que os antijudeus estão surfando esta tsunami que começa bem miudinha. Vai crescer e vai arrebentar sobre muita gente.
O que se avizinha, certamente é um Holocausto manso. Vagaroso.
Ao contrário de matar judeus em praça pública, o que neste momento pega mal e pode trazer sanções comerciais, contra os assassinos, os mesmos de sempre urdem contra a vida judaica tradicional, contra os valores judaicos, contra a primeira lei que seguimos e praticamos que é a da circuncisão, um debate público, estimulado pela imprensa alemã e austríaca que viu neste tema um pedaço certo de polêmica para vender jornal e programas de TV e que sem dúvida alguma , vai desembocar em lei. Lei que virá para proibir a prática da circuncisão, terminando com a dignidade judaica conseguida na mesma Europa que lhe foi algoz, através de muito sangue, suor e lágrimas, choradas por todos nós, diariamente.
Claro está que muitos devem estar imaginando que sou apenas um louco, atrás de sensacionalismo. Assim também disseram sobre aqueles que avisavam aos judeus que suas famílias já tinham sido deportadas e que as próximas seriam as deles.
Nós não vamos nos calar. Nós sabemos que o próximo passo será dado contra a prática do abate de gado para a produção de carne kosher (abatida ritualmente, dentro dos preceitos da lei judaica).
Em nove de novembro de 1938, quase todas as sinagogas da Europa foram incendiadas a mando dos nazistas. Hoje querem incendiar antes dos nossos prédios, as nossas almas. Querem se envolver na prática de nossa religião, para impedi-la.
A democracia existe para garantir a vida das minorias. Maioria que quer se impor contra minoria não pode ter sua prática sufragada por quem acredita nas liberdades. Esta é prática de regimes de exceção.
Menorah está avisando porque hoje mesmo, estamos na Áustria assistindo o debate e as coisas estão acontecendo sob nosso nariz adunco.
Amanhã que não se façam de idiotas e não digam que não houve aviso.
Aos dirigentes e ao presidente da Conib, aos presidentes de Federações Israelitas de todo o Brasil e ao meu amigão, Jack Terpins, grande presidente do Congresso Judaico Latino Americano, peço que não fechem os olhos. Nós aqui da Menorah estamos preparando um documento para ser assinado por todos os judeus e não judeus possíveis, em todo o mundo, principalmente nos países que visitamos e que são mais de quarenta. Vamos fazer este documento chegar ao seu destino para que surta seus efeitos.
Vamos nos mexer para evitar o que já sabemos que vai acontecer se cruzarmos os braços, vez que não é novidade e já foi agenda da Igreja, dos cruzados, do Império Romano, da Inquisição, dos nazistas e agora dos juristas e legisladores da atual Baviera.
O documento é nada mais do que uma petição simples para que a maioria não judaica da Europa respeite a forma de vida e a tradição judaica que jamais fizeram mal a um de nossos filhos, muito pelo contrário. Uma petição para ser entregue aos parlamentos da Alemanha e da Áustria, através de seus embaixadores em cada um de nossos países.
Deixem os judeus em paz para continuarem a viver suas vidas de comerciante, banqueiro, sapateiro, rabino, alfaiate, livreiro, militar e mohel (prático em circuncisão).
Semana que vem, publicaremos o texto para você avaliar se merece receber a sua assinatura. Até lá.
Ronaldo Gomlevsky
Editor Geral - "MENORAH RAPIDINHAS"
FONTE: