"De Moshê a Moshê, nunca houve alguém como Moshê." | ||||||
1135-1204 (4895-4965) Vida No decorrer da história, houve alguns pensadores cuja influência sobre as gerações que os sucederam continua evidente até os dias de hoje. Rabi Moshê ben Maimon (Maimônides) ou simplesmente Rambam como é mais conhecido, foi uma destas figuras. Maimônides nasceu em 1135, na cidade de Córdoba, na Espanha, então sob domínio muçulmano. A cidade era um grande centro cultural, onde muçulmanos, judeus e cristãos conviviam e participavam ativamente da vida pública. Em 1148, no entanto, foi tomada pelos Almohads, que pregavam a restauração da fé pura Islâmica. Os judeus que não se converteram foram expulsos. Rabi Maimon, pai de Maimônides e líder da comunidade judaica de Córdova, levou sua família de cidade em cidade no sul da Espanha durante a próxima década, à medida que os Almorávidas gradualmente varriam o país. Os comentários de Maimônides sobre os dois Talmud, o de Jerusalém e o da Babilônia, bem como seus primeiros tratados, foram compostos durante aqueles anos de perseguição. Em 1159 chegaram a Fez, Marrocos, onde permaneceram por cinco anos. Maimônides estudou medicina e Torá durante este período, onde também compilou a maior parte de seu trabalho para o comentário da Mishná. Trabalhando às vezes sob condições difíceis, ele era com freqüência forçado a trabalhar de memória, condensando e esclarecendo as longas explicações talmúdicas da Mishná, sem ter o texto à sua frente. Em 1164, a perseguição religiosa forçou a família a sair também de Fez. Após passarem pela Terra Santa, Rabi Maimon e sua família chegaram a Fostad, no Egito (antigo Cairo) em 1166, o ano do falecimento de Rabi Maimon. Durante os cinco anos que se seguiram, a família foi sustentada pelo irmão de Maimônides, David, permitindo que Maimônides começasse a trabalhar em sua obra Mishnê Torá. Em 1171, no entanto, David morreu num naufrágio, e Maimônides passou a exercer a medicina como forma de sustentar a família. Foi nesta conjuntura que ele deu início àquilo que mais tarde se tornaria uma carreira de sucesso como médico, chegando a servir como médico pessoal do Grande Vizir Alfadhil e do Sultão Saladin. Por volta de 1177, as obras eruditas de Maimônides tinham se tornado tão respeitadas que foi convidado a ser Rabino Chefe do Cairo, uma comunidade judaica grande e influente. Apesar dessas responsabilidades, ele completou a Mishnê Torá logo depois e, dez anos mais tarde, seu Guia para os Perplexos. Maimônides faleceu em 1204, em Fostat, e foi enterrado em Tiberíades, Israel.Datas e Eventos
Por volta do século XII da era comum, cerca de 700 anos depois que o Talmud da Babilônia tinha recebido seu formato final, havia se desenvolvido uma vasta população de judeus para quem seus argumentos, muitas vezes sutis, eram inacessíveis. Sem as explicações talmúdicas, era difícil entender corretamente a linguagem condensada da Mishná. Rabi Yitschakl Alfasi (o Rif) deu o primeiro passo para tornar as explicações mais acessíveis, selecionando opiniões autorais e a passagem legal relevante do Talmud, dispensando as discussões mais elaboradas e as seções de casos. Em seu formato final, a compilação do Rif foi uma tremenda realização – poucos eruditos tinham o conhecimento e a percepção necessária para estudar todo o material talmúdico para chegar às leis definitivas. Seguindo a mesma organização do Talmud – com suas freqüentes, às vezes abruptas mudanças de assunto – no entanto, a obra do Rif não era de fácil consulta àqueles que não eram bem versados no Talmud. Maimônides procurou remediar esta deficiência compondo um código organizado por tópicos. Mishnê Torá, é composta de 14 livros que contêm 982 capítulos e milhares de leis. Dividiu sua obra em catorze livros, com cada livro dividido em capítulos e cada capítulo desmembrado em discussões de leis individuais. Esforçou-se para criar um código no qual o regulamento sobre um assunto específico pudesse ser prontamente localizado. Colecionando todas as legislações bíblicas, talmúdicas e pós-talmúdicas, e destacando as opiniões mais abalizadas, ele incluiu toda a gama da Lei Judaica – mesmo aquelas leis que, segundo a tradição, não serão novamente praticadas até a Era de Mashiach (tais como as referentes aos sacrifícios no Templo). Para facilitar o acesso e a leitura, Maimônides escolheu apresentar as leis em seu código sem referência a suas fontes ou explicações de seu arrazoado (ambos foram subseqüentemente fornecidos por outros comentaristas). Sua intenção, em resumo, foi fornecer um código de leis que, em suas palavras, permitiriam que "nenhum homem teria de recorrer a qualquer outro livro sobre qualquer assunto da Lei Judaica, mas que o compêndio conteria toda a Lei Oral". Portanto, ele decidiu chamá-la Mishnê Torá (Segundo à Torá). E de fato, a partir de sua publicação, a reação à obra foi extraordinária. Estudada e consultada por judeus de todas as partes, a Mishnê Torá logo foi aclamada como a obra mais notável da erudição judaica desde o Talmud. Escrita em linguagem clara e cuidadosamente elaborada, tornou-se um modelo de composição sucinta e concentrada. (Comentaristas posteriores se referem à redação das obras de Maimônides como "linguagem de ouro"). Única em seu escopo, sem par em sua composição, a obra tem se mantido como o alicerce para todas as codificações da Lei Judaica desde então. Guia para os Perplexos No seu livro "Guia dos Perplexos", o Rambam mostra o caminho certo para o indivíduo. Apesar de sempre preocupar-se com o bem-estar da comunidade e do povo em geral, ele sabia muito bem que às vezes o indivíduo não se adapta às regras gerais. Por isso escreveu o livro como uma orientação para a vida. Durante a vida de Maimônides, muitos judeus observantes tinham sentido atração pelas obras dos antigos filósofos gregos, uma influência que era popular dentre os eruditos árabes da época. Enfrentando conflitos entre as concepções aristotélica e judaica do mundo, estes judeus se tornaram perturbados e abalados em sua fé. Preocupado com essa confusão e temendo suas potenciais conseqüências, Maimônides compôs seu Guia para elucidar sistematicamente a filosofia básica e os dogmas religiosos do Judaísmo. O Guia não foi direcionado ao judeu descrente, mas explicitamente projetado para judeus eruditos e devotos. Como escreve Maimônides em sua introdução: "O objetivo desse tratado é esclarecer um homem religioso que foi treinado a acreditar na verdade de nossa sagrada Lei, que conscientemente cumpre seus deveres morais e religiosos, e ao mesmo tempo tem obtido sucesso em seus estudos filosóficos." O Guia é dividido em três partes. A primeira é dedicada a discussões dos equívocos que podem surgir diretamente do texto da Torá – aparentes contradições escriturais, antropomorfismos de D’us, e similares. O segundo ataca problemas que brotam das incompatibilidades entre as abordagens "científica" (Aristotélica) e bíblica a D’us e ao mundo, e analisa extensivamente a legitimidade de aplicar o raciocínio aristotélico a questões de religião e da Torá. A seção final do Guia está voltada a temas mais gerais, fundamentalmente religiosos: a natureza do bem e do mal, o propósito do mundo, o significado por trás dos Mandamentos, o caráter da pura devoção. Infelizmente, a linguagem filosófica na qual o Guia é composto tem levado a um mau entendimento das intenções de Maimônides. Perfeitamente cônscio dessas dificuldades em potencial, Maimônides deixa claro em sua introdução que o Guia deve ser lido com muito cuidado: "Aquilo que escrevi nesta obra não foi a sugestão do momento; é o resultado de profundo estudo e grande aplicação… Não o leia superficialmente, para não me ofender, e não extraia benefício para si mesmo. Você deve estudar extensivamente e ler sempre." Alguns dos mais notáveis comentaristas rabínicos clássicos na verdade indicaram que muitos dos conceitos que Maimônides discute estão baseados em profundas opiniões do Zôhar, o texto básico do misticismo judaico. Deve-se enfatizar que embora muito filosófico e científico, o Guia permanece profundamente enraizado na Torá. Maimônides via a ciência e a filosofia como auxílios ao entendimento das Leis de D’us, em vez de um fim em si mesmas. Apesar desses mal entendidos que se seguiram à publicação e ao fato de ter uma platéia específica, a influência do Guia foi profunda, tanto no círculo judaico quanto no não-judaico. Indiscutivelmente o mais comentado dos tratados filosóficos de todos os tempos, possui mais de trinta comentários em hebraico cujos autores são conhecidos e grande número de outros comentários escrito por autores cujos nomes se perdeu. Traduzido em praticamente todos os idiomas europeus, é citado extensivamente nas obras de Aquino, Bacon e outros. O mais significativo, porém, é que o Guia foi responsável por abrir uma nova era de investigação judaica em questões de filosofia, servindo tanto como pedra fundamental quanto como um catalisador para obras subseqüentes em seu gênero. Os Treze Princípios de Fé O Rambam faz parte da vida dos sábios e dos eruditos, quando todos os dias se elevam ao mergulhar na profundidade de seus livros. Mesmo as pessoas menos instruídas são influenciadas pelo Rambam, através dos 13 Princípios da Fé, formulados por ele. Esses princípios da fé judaica versam sobre as virtudes, a fidelidade e a fé na eternidade da Torá e na breve vinda de Mashiach – todos estes valores tiveram e têm um papel importante na complementação espiritual de nosso povo. Esta prece representa a grandeza da obra do Rambam, pois ele conseguiu penetrar no intelecto e no coração de todos os judeus; do mais erudito ao mais afastado dos conhecimentos da Torá. Cada um dos 613 preceitos da Torá serve para:
A Halachá tem uma grande influência sobre os conceitos do Rambam na Medicina. Sua famosa oração do médico é plena de fé e convicção da influência Divina sobre a Medicina. Ele acreditava plenamente nesta influência sobre o corpo, onde alma e o corpo são indivisíveis. Rambam sempre confiou muito no Médico Celestial, que acompanha o médico terrestre. O ponto principal de Rambam é que somente por meios físicos não se pode curar um doente. O corpo anda de mãos dadas com a alma e são necessárias forças espirituais para curar as doenças. As boas virtudes foram colocadas por Rambam no mesmo nível dos remédios, pois um completa o outro. Segundo a linha do Rambam, a pessoa que mortifica propositadamente seu corpo é um pecador, pois está fazendo a alma sofrer. Ele declarava que a força do corpo está ligada ao espírito e que todas as doenças se refletem no espírito da pessoa. Na sua linguagem: "Para os irados, sua vida não é vida." Suas opiniões são válidas ainda atualmente, apesar de terem já se passado centenas de anos. Podemos conhecer um pouco de Rambam como médico através da leitura do texto conforme aparece em uma de suas cartas: "Moro em Fostat e o Sultão reside no Cairo; estes dois locais estão a cerca de 2km de distância. Minhas obrigações para com o Sultão são muito pesadas. Tenho de visitá-lo todos os dias, de manhã cedo; e quando ele ou algum dos filhos, ou as pessoas do harém, estão indispostos, não ouso sair do Cairo, porque devo permanecer a maior parte do dia no palácio. Também acontece freqüentemente que um ou dois dos oficiais da corte adoecem, e devo cuidar de sua cura. Portanto, em geral, vou ao Cairo bem cedo pela manhã e se nada de extraordinário acontece, só volto a Fostat no fim da tarde. "A esta altura, estou quase morrendo de fome. Encontro as antecâmaras repletas de gente, judeus e gentios, nobres e pessoas comuns, juizes e meirinhos, amigos e inimigos – uma multidão variada, que espera pela minha volta. Desmonto de meu animal, lavo as mãos, vou até meus pacientes, peço a eles que esperem enquanto como alguma coisa, a única refeição que faço em vinte e quatro horas. Então atendo meus pacientes, prescrevo receitas e orientações para suas diversas doenças. Os pacientes entram e saem até o anoitecer, e às vezes até, eu lhe asseguro solenemente, oito horas da noite. Converso e receito deitado, de pura fadiga, e quando a noite chega estou tão exausto que mal posso falar. "Em conseqüência disso, nenhum israelita pode ter qualquer entrevista privada comigo, exceto no Shabat. Naquele dia toda a congregação, ou pelo menos a maior parte, procura-me depois do serviço matinal, quando então os instruo sobre seus procedimentos durante a semana inteira; estudamos juntos um pouco até meio-dia, quando vão embora. Alguns deles voltam, e lêem comigo depois do serviço vespertino até as Preces Noturnas. Assim passo o dia. Aqui relatei a você apenas uma parte daquilo que verá quando me visitar." Oração do médico Autoria atribuída a Maimônides: "Ó D’us, Tu formaste o corpo do homem com infinita bondade; Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém se a fraqueza ou paixão violenta perturba esta harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo retorna ao pó de onde veio. Tu enviaste ao homem Teus mensageiros, as doenças que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para superá-las. "A Eterna Providência designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas. Que o amor à minha arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem a sede pela glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da verdade e da filantropia, ele poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer meu elevado objetivo de fazer o bem a teus filhos. "Concede-me força de coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre. Se médicos mais instruídos que eu desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros vêem. "Que eu seja moderado em tudo, exceto no conhecimento desta ciência; quanto a isso, que eu seja insaciável; concede-me a força e a oportunidade de sempre corrigir o que já adquiri, sempre para ampliar seu domínio; pois o conhecimento é ilimitado e o espírito do homem também pode se ampliar infinitamente, todos os dias, para enriquecer-se com novas aquisições. Hoje ele pode descobrir seus erros de ontem, e amanhã pode obter nova luz sobre aquilo que pensa hoje sobre si mesmo. "D’us, Tu me designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura: aqui estou, pronto para minha vocação." Ensinamentos Filosofia Os filósofos opinam que Maimônides influenciou muito o pensamento da Filosofia e da Medicina. Graças a ele, a teoria de Aristóteles foi aceita na Filosofia em geral na Idade Média. O Rambam criou uma síntese entre a Filosofia e a Medicina, aprofundando-se em ambas, analisando-as de maneira aguda e crítica. Os seus ensinamentos sobre estas matérias vieram a ser conhecidos mesmo nos ambientes não judaicos. Suas obras foram traduzidas do original árabe para o ladino e outros idiomas daquela época. Em muitas universidades estas obras ainda são estudadas. Ciência No mundo científico, o Rambam foi intitulado de "O Aristocrata Espiritual", mas para nós, ele tem um título maior e mais elevado, "O Mestre de Nosso Povo". Seus ensinamentos destinam-se não somente aos gigantes em erudição, mas também às pessoas simples, pois a estas ele doou inteiramente sua alma. Estava sempre atento aos interesses das mesmas, em todos os países onde viveu. O Talmud Em seu outro trabalho monumental, o Rambam declara que para entender as leis do Talmud são necessárias três coisas: um intelecto amplo, paz de espírito e muito tempo. Ele viu que o Talmud, a principal obra orientadora do povo judeu, tinha ficado além do alcance da maioria do povo. Isto se deveu a abordagem de temas complexos ali expostos, aliado às dificuldades e sofrimentos dos judeus que não possuiam o tempo e a calma para absorver seu vasto e profundo conteúdo. O Rambam sentiu também que os talmudistas estavam diminuindo em número e assim, havia o grave perigo de o povo esquecer a Torá, sem a qual a vida de um judeu não tem sentido. Dedicou então todos seu profundo conhecimento para desvendar os segredos da Torá tornando-os acessíveis e de fácil compreensão a todos, escrevendo grande parte de suas obras em outros idiomas, especialmente o árabe, que na época era a língua corrente no sul da Europa, norte da África e em todo o Oriente. Sua primeira obra, a Explicação da Mishná, também é chamada de "Livro da Iluminação", pois ilumina os olhos dos leigos. Antes de chegar aos vinte e três anos, Maimônides tinha completado um tratado sobre o Calendário Judaico, uma dissertação sobre lógica, e um compêndio legal do Talmud de Jerusalém. As mitsvot Maimônides não exige que o indivíduo se eleve acima da capacidade do seu intelecto, mas quer que desenvolva os dons naturais para usá-los da melhor maneira possível. Nos orienta a usar "um caminho de ouro", as mitsvot, boas ações, que nos abre os olhos para encontrar o verdadeiro caminho até D’us e Sua Torá. A finalidade do Rambam era elevar o povo mesmo nos momentos mais difíceis, abrir amplamente as portas a todos os judeus para que pudessem estudar e compreender o Talmud, tanto os adultos como as crianças. É interessante notar como ele se expressa ao falar das leis do shofar: "Por causa da elasticidade do exílio e dos fortes sofrimentos, caiu a lei de como deve ser o toque do shofar, Deve ele representar um gemido profundo ou um suspiro normal?" Nessa observação o Rambam demonstra sua atitude para com a Halachá, e descreve aqui algo muito profundo. O exílio está repleto dos gemidos judaicos; nós passamos por dois tipos de exílio: o espiritual e o físico. No espiritual, sofre a alma judaica, e no exílio físico é o corpo judaico que sofre. O sofrimento espiritual vem pela profanação do Shabat, pela falta de Cashrut e pelos decretos contra a nossa religião que os nosso inimigos impõem. O sofrimento físico são as torturas e perseguições. O shofar deve transmitir para D’us os dois tipos de gemidos, o físico e o espiritual. Astrologia Maimônides estudou profundamente o assunto antes de emitir sua opinião onde foi um dos poucos que ousaram levantar sua voz contra a crença quase universalmente aceita do poder dos corpos celestes de influenciar o destino humano. Ele denunciava a astrologia como uma superstição próxima à idolatria, rejeitando-a categoricamente e a outras práticas supersticiosas. Na sua famosa carta à comunidade do Iêmen, Maimônides declara: "Eu noto que vocês estão inclinados a acreditarem na astrologia e na influência das conjunções passadas e futuras dos planetas sobre os assuntos humanos. Deveriam tirar tais noções de seu pensamento…" Maimônides investiu fortemente contra a astrologia, denunciando-a como um engodo que é subversivo contra a fé e os ensinamentos do Judaísmo. Ele escreve na Ética dos Pais: "Aprofundei-me neste assunto para que você não acredite nas idéias absurdas dos astrólogos, que asseguram falsamente que a posição dos astros no momento do nascimento da pessoa determina se ela será virtuosa ou perversa." Amuletos Desde os tempos mais antigos, as pessoas têm tentado afastar desgraças, doenças ou "maus espíritos" usando sobre o próprio corpo pedaços de papel, pergaminhos ou discos de metal, gravados com várias fórmulas que deveriam proteger ou curar o usuário. Tais artefatos são conhecidos como amuletos. Maimônides, contrário à considerável parte da opinião rabínica na Idade Média, opõe-se rigorosamente a tais práticas. Ele argumenta contra a tolice dos escribas dos amuletos e contra o uso de objetos religiosos (tais como o Rolo da Torá) para a cura de doenças. Humanismo: Em seus ensinamentos, o Rambam não deixa de lado nenhum detalhe da vida humana. Fala da vida particular, da vida familiar, do relacionamento entre as pessoas e destas com a coletividade. Comenta os deveres que nós, judeus, temos para com os países onde vivemos e as responsabilidades do governo com os cidadãos. Mashiach: Ele também escreveu um código especial para o reino de Israel, para ser usado quando chegasse a época da Redenção. Este código regula toda a vida do país ligando o reino inferior ao Reino Celestial (superior) – uma visão da Era Messiânica, quando todos se comportarão com uma ética mais elevada aplicada a vida diária. Capítulo 11 … e todo aquele que não acredita no Mashiach, ou que não aguarda sua vinda – está não apenas contestando os outros profetas, mas a própria Torá e Moshê Rabênu. (Lei 1)
Capítulo 12 Não pense que na Era Messiânica se anulará algo dos costumes e da natureza do mundo, ou que haverá qualquer novidade na obra da Criação. Na realidade, o mundo seguirá o seu caminho… o que ocorrerá é que Israel será estabelecido para sempre… todos os povos retornarão à verdadeira fé; não furtarão, nem prejudicarão… (Lei 1) Disseram nossos Sábios: "Não há diferença entre este mundo (esta época) e a Era Messiânica, exceto que não seremos mais subjugados por outros povos". O que transparece literalmente das palavras dos Profetas é que no início da Era messiânica haverá a guerra de "Gog e Magog"; e antes dela se levantará um profeta que encaminhará Israel e preparará o seu coração… A pessoa só saberá como serão todos estes acontecimentos quando ocorrerem, pois são fatos ocultos nos livros dos profetas… (Lei 2) Os sábios e os profetas não ansiavam pela Era Messiânica para dominar o mundo, dominar as nações ou para que fossem honrados pelos povos, tampouco para ter em abundância alimento, bebida e festividades. Desejavam, sim, a Era Messiânica a fim de ficarem livres para se dedicar à Torá e à sua sabedoria, sem que houvesse qualquer domínio ou obstáculo, pois seria esse estudo que os levaria a merecer a vida no Mundo Vindouro… (Lei 4) Na Era Messiânica não haverá fome, guerra, inveja ou concorrência – pois o bem existirá em profusão e todas as delícias serão abundantes como o pó da terra. O mundo se dedicará, apenas e tão somente, ao conhecimento de D’us. Portanto os integrantes de Israel serão grandes sábios e conhecedores dos fatos ocultos, e captarão o conhecimento do Criador, de acordo com a capacidade humana, como foi dito: "Pois a terra estará repleta do conhecimento de D’us, como as águas cobrem o leito dos mares" (Yeshayáhu 11:9). (Lei 5) Em um Siyum (Encerramento do Estudo) da obra "Yad Hachazacá" ou Mishnê Torá de Rambam, o Lubavitcher Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, forneceu a seguinte explicação por que Maimônides, ao definir esta época, cita o versículo completo: "… como as águas cobrem os mares": Da mesma forma que nos mares existem peixes e outros seres aquáticos que são distintos da composição do mar (apesar de sua existência estar completamente condicionada e dependente do mar), assim também existe a possibilidade de o ser humano conhecer D’us, apesar de ele e D’us serem duas entidades distintas. Porém, as águas que cobrem a superfície do mar na realidade representam sua própria essência, sendo que elas são a única coisa visível, completamente integradas ao mar. De maneira similar, disse o Rebe, Maimônides descreve a Era Messiânica como sendo repleta do conhecimento Divino "como as águas que cobrem os mares" ou seja, a única coisa visível no mundo seá o conhecimento Divino. As criaturas estarão integradas ao Criador, sendo que a única existência no mundo será o conhecimento Divino.Conselhos práticos de Rambam Disposições Morais Todo ser humano possui diversos temperamentos, cada um distinto do outro. Há um tipo irascível e que está sempre zangado; outro é tranqüilo e quando chega a irritar-se, o faz brandamente, uma vez em muitos anos. Há indivíduos que são exageradamente arrogantes, e outros extremamente humildes. Existem ainda os sensuais, cujos desejos nunca podem ser satisfeitos, e os de coração puro, que não anseiam pelas poucas coisas que o corpo necessita. Há também os gananciosos, cuja alma não se satisfaz nem com todo o dinheiro do mundo; os frugais, que ficam contentes mesmo com uma pequena quantia. Embora não suficiente para suas necessidades. Há aqueles que se torturam pela fome – são avaros, e não consomem um centavo do que é seu, sem grande angústia. E há os que desperdiçam intencionalmente todo seu dinheiro. Os outros temperamentos, tais como o frívolo e o melancólico, o cruel e o compassivo, o brando e o duro de coração e assim por diante, podem ser vistos de maneira similar. Seguir qualquer um dos extremos de cada temperamento não é o caminho certo. O correto é a tendência intermediária de cada um deles, dos quais o homem é dotado. Não se deve ser uma pessoa irada, facilmente irritável, tampouco apática, que nada sente: o melhor é ficar no meio. O indivíduo deve ficar irado somente por alguma coisa grave, pela qual seja apropriado zangar-se, a fim de que tal fato não se repita. Igualmente, não se deve cobiçar algo além daquilo que o corpo necessita, e sem o qual é impossível sobreviver. Não se deve ser miserável demais e nem esbanjar o dinheiro. A pessoa deve fazer caridade de acordo com seus recursos e emprestar àquele que necessita. Não se deve ser frívolo demais, nem demasiado triste e lamentoso; deve-se porém ser agradável, contente e cordial todos os dias da vida. O mesmo se aplica aos outros temperamentos. A pessoa cujos temperamentos são intermediários e segue o caminho do meio é chamada de sábia. Bom caráter e conduta ética são fatores essencias num ser humano, em seu comprimento dos preceitos Divinos. Uma pessoa deve ser escrupulosa em sua conduta, delicada ao conversar, agradável aos seus semelhantes, recebê-los de maneira afável e cortês, conduzir seus assuntos comerciais com integridade e honestidade, e dedicar-se ao estudo da Torá. Valor da Vida Humana Para salvar uma vida humana, todos os 613 preceitos da Torá, com exceção de três (ver abaixo) podem ser postos de lado, se necessário. Assim, se alguém está perigosamente enfermo, e os médicos asseguram que o paciente pode ser curado pelo uso de um remédio que implica a transgressão de um mandamento bíblico, este deve ser aplicado. Onde a vida está em perigo, qualquer coisa proibida pela Torá pode ser usada para curar o paciente, exceto a prática de idolatria, incesto e assassinato. Entretanto, não se pode sacrificar uma vida humana para salvar outra, mas o Shabat pode ser profanado; comida não-casher pode ser consumida e pode-se ingerir alimentos mesmo em Yom Kipur. A base para esse princípio é a declaração escritural de que "Ele viverá por eles" (Vayicrá 18:5), que nos ensina que devemos viver pela Torá e não morrer por ela. Este princípio é aplicável não somente nos casos de perigo de vida, mas também nos de perigo em potencial. Seguem alguns exemplos: uma mulher em trabalho de parto, e pouco depois o parto é considerado como fazendo parte da categoria dos perigosamente doentes. Todos os preceitos são suspensos, se necessário, em seu benefício. Se uma mulher morre de parto, é permitido, e até obrigatório, fazer uma cesariana no Shabat, na tentativa de salvar a criança. Mesmo que o perigo de vida não seja uma doença física, mas uma ameaça externa, como no caso de uma vítima de afogamento, ou alguém preso numa casa incendiada, deve-se fazer todo o possível para salvá-la. A doença mental e emocional, perigosa ou potencialmente perigosa, é vista do mesmo modo que a doença física, como no caso de uma criança trancada num quarto e que pode morrer de medo se não for salva. Para resgatar alguém de um prédio que desmorona, mesmo que esteja quase morto, mas com chances de sobreviver, é permitido profanar o Shabat. Estes regulamentos indicam claramente que o valor da vida humana é ilimitado e que cada um dos seus momentos é valioso. Regras Básicas de Saúde Banho A pessoa não deve tomar banho imediatamente após uma refeição ou quando estiver com muita fome, mas sim quando o alimento começar a ser digerido. Deve-se lavar a cabeça somente com água bem quente. Com relação ao corpo, inicia-se sua lavagem com água quente, diminuindo a temperatura aos poucos até terminar com água fria. Sono É suficiente para um indivíduo dormir oito horas diárias. Este sono deve terminar no final da noite, de modo que desde o começo do sono até o nascer do sol passem-se oito horas. Assim, ele se levantará da cama antes de o sol nascer. A pessoa não deve dormir de bruços ou de costas, mas sobre o seu lado esquerdo, no começo da noite, e no fim dela, do lado direito. Não se deve deitar para dormir logo depois de comer, esperando algumas horas depois de uma refeição. Prisão de ventre Uma pessoa não deve adiar suas necessidades fisiológicas nem por um momento; estas devem ser cumpridas imediatamente. Aquele que as contêm pode acarretar sobre si doenças graves, pondo sua vida em risco. O homem deve, ao contrário, habituar seus movimentos intestinais a horários regulares para não constranger-se na presença de outros. Quando alguém tem prisão de ventre, se for jovem: pela manhã deve comer alimentos salgados cozidos e temperados com azeite de oliva, ou salmoura, sem pão; ou tomar água do espinafre ou repolho cozidos, misturada com azeite de oliva e salmoura. Se for idoso, deve tomar mel misturado à agua morna pela manhã, e esperar umas quatro horas para fazer a primeira refeição. Isso deve ser repetido por três a quatro dias, se necessário, até regularizar o intestino. Nutrição e Dieta Um corpo frágil não digere bem os alimentos, mesmo os mais saudáveis, portanto devemos sempre dosar a quantidade do alimento (segundo a nossa força ou fraqueza), escolhendo a qualidade dos mesmos conforme a constituição do corpo. Uma pessoa não deve comer a não ser quando estiver com fome, nem beber a não ser quando tiver sede; também não deve comer até o estômago ficar repleto, mas sim consumir aproximadamente uma quarta parte de sua capacidade. Uma pessoa deve se alimentar somente após ter caminhado antes da refeição, para o corpo ficar aquecido, executar algum trabalho físico ou se cansar por algum tipo de esforço. Se depois do exercício ela se lavar com água morna, tanto melhor. Deve-se esperar um pouco e só então comer. Não se deve comer antes de verificar se precisa executar as necessidades fisiológicas. Ao comer, a pessoa deve sempre estar sentada ou reclinada sobre o lado esquerdo. Não deve andar, montar a cavalo, exercitar-se ou agitar o corpo, nem passear até que o alimento seja digerido. A pessoa, ao se alimentar, deve sempre começar com algo leve e depois continuar com os alimentos mais pesados. Nos meses quentes deve-se comer alimentos refrescantes e não usar temperos excessivos, exceto vinagre. Nos meses chuvosos ou frios, deve consumir alimentos quentes, temperar abundantemente a comida e comer um pouco de mostarda e assafétida. É desta forma que os alimentos devem ser preparados nos climas quentes e frios. Não é adequado empanturrar-se como um cão esfomeado, nem engolir uma bebida fria quando se tem sede como alguém que está subitamente ardendo em febre, bebendo o conteúdo do copo de uma só vez. Ainda mais importante é que não se estende a mão em vão ao alimento, especialmente doces e similares, que são chamados de "comidas de glutão". Tomar água fria antes de começar as refeições é danoso à digestão e ao fígado. Não se deve beber água durante as refeições, a não ser um pouco e misturada ao vinho. Quando o alimento começa a ser digerido pode-se tomar água na medida da necessidade, mas não em excesso. A mais saudável das águas potáveis é aquela que não tem sabor nem odor. Estas águas são as que mais saciam e as mais agradáveis. Todas aquelas que fluem numa direção oriental sobre areia limpa e ficam rapidamente aquecidas são as mais adequadas para beber. Perigos Ambientais As carcaças de animais, túmulos e curtumes devem ser instalados à distância de uma cidade. Um curtume deve ser construído do lado leste da cidade, porque o vento oriental é suave e diminui os odores desagradáveis produzidos pela curtição dos couros. Os malefícios provocados pela fumaça, o odor dos aparelhos sanitários, poeira em excesso, máquinas que causam trepidação do solo, são motivos para que a parte prejudicada processe o seu vizinho a fim de obrigá-lo a remover os causadores dos danos até uma distância adequada. Qualquer pessoa que deseje preservar sua saúde deve levar em consideração, em primeiro lugar, a água limpa e uma dieta saudável. O ar urbano é poluído, turvo e denso, resultado natural dos prédios altos, ruas estreitas e do lixo dos seus moradores. A pessoa deveria, se possível, escolher como residência um local amplo e arejado. As melhores moradias estão localizadas num andar mais alto, onde entra bastante sol. Os sanitários devem ficar o mais longe possível das salas de estar. O ar deve ser conservado seco e agradável, usando-se perfumes suaves através de desodorantes especiais. A preocupação com o ar puro é a regra primordial na preservação do corpo e da alma. Alcoolismo Não se deve exagerar no vinho e na folia, pois a embriaguez excessiva e a leviandade não levam ao júbilo, mas sim à loucura. Para algumas pessoas, vinho de safra nova faz mal, ao passo que vinho velho faz bem. (Escritores de muitos países, nos últimos séculos, têm comentado a relativa sobriedade dos judeus. Estatísticas relativas a prisões por embriaguez, psicoses relativas ao álcool têm se mostrado menos representativas entre os judeus. Um dado repetido em muitos estudos é que mais judeus do que outros grupos étnicos ou religiosos consomem bebidas alcoólicas, mas proporcionalmente menos judeus são alcoólatras. Uma das explicações para esta baixa incidência de alcoolismo entre os judeus se refere à precoce iniciação das crianças no uso ritual do vinho, que acrescenta uma nota cerimoniosa à refeição, elevando-o, deste modo, de uma necessidade biológica a um ato singularmente humano, pelo qual o judeu reconhece a presença de D’us à mesa. Tais atitudes precoces podem prevenir excessos subseqüentes na ingestão de bebidas alcoólicas.) Matrimônio O matrimônio no Judaísmo é um mandamento Divino (Devarim 12:13). Suas finalidades incluem a procriação, o companheirismo, a auto-realização e também a aquisição de um estado de santidade que surge ao se evitar o pecado i.e., o sexo ilícito fora do matrimônio. Para cumprir o mandamento bíblico: "Frutificai e multiplicai-vos" (Bereshit 1:28; 9:1-7; 35:11), um homem deve ter pelo menos um filho e uma filha. Entretanto, os sábios aconselharam ter mais filhos. O homem não pode se casar com uma mulher incapaz de ter filhos, a menos que ele já tenha cumprido o mandamento da procriação. Ele nunca deve casar-se com a intenção de divorciar-se depois. Um homem é obrigado a prover sua esposa de alimento (i.e., manutenção), vestuário (incluindo jóias e perfumes) e direitos conjugais. Num matrimônio judaico, acima da questão da procriação, existem os direitos conjugais da esposa, tecnicamente designados "ona". Assim, a relação não procriativa, como ocorre quando a mulher é jovem demais para ter filhos, estéril, está grávida, pós-menopausa, ou após uma histerectomia, não só é permitida como é requerida. Os sábios ordenaram que o homem deve honrar sua esposa mais que a si mesmo, e amá-la como a si mesmo. Se tiver posses, deve aumentar sua generosidade de acordo com sua riqueza; não deverá causar-lhe medo indevido; ao falar com ela deve ser gentil e não deve ser propendo à ira ou à melancolia. Também ordenaram que, por sua vez, a esposa deve honrar o marido e reverenciá-lo; deve-se organizar seus afazeres de acordo com as suas instruções. Ele deverá parecer a seus olhos tal como um príncipe ou rei, enquanto ela se conduzirá de acordo com os desejos de seu coração e se manterá afastada de tudo que a ele for odioso. Este é o caminho das filhas e dos filhos de Israel, que são santos e puros em seu relacionamento, e sua vida conjugal é louvável. As Relações O homem para ser perfeito deve ter controle completo sobre seu desejo sexual, alimentar ou de bebida, para não impedir o desenvolvimento de sua perfeição. A moderação no sexo, como em todas as esferas das atividades biológicas humanas, é recomendada. No Judaísmo, a aversão pela libidinagem e prostituição é bem enfatizada. Sempre que o sêmen é emitido em excesso, o corpo fica esgotado e sua força diminui. Aquele que se excede estará sujeito ao envelhecimento precoce, esgotamento físico e enfraquecimento da visão. O sexo pré-marital é proibido. O homem deverá primeiro levar sua futura esposa para dentro do seu próprio lar e designá-la como exclusivamente sua, através da cerimônia nupcial. Se ela for virgem, ele se alegrará com ela, participando de refeições festivas durante a primeira semana, sem trabalhar. (Esta é chamada a semana de "sheva berachot".) Se for viúva ou divorciada, deverão ter as "sheva berachot" durante três dias. No casamento, a relação não somente é permitida, como faz parte das obrigações do marido para com a mulher, e deve ocorrer com o consentimento de ambos. Quando um homem procura sua esposa, não deve fazê-lo no começo da noite, quando está saciado; nem no fim da noite, quando está faminto. Ele deve coabitar no meio da noite, quando o alimento já tiver sido digerido. Primeiramente deve conversar com sua esposa e diverti-la um pouco, a fim de deixá-la descontraída; depois ter a relação, com modéstia, carinho e atenção, sem imprudência. O Ritual da Circuncisão Esse mandamento não foi prescrito com vistas a reparar o que pode ser congenitamente imperfeito, mas para aperfeiçoar moralmente o ser humano. A circuncisão tem outro significado, muito importante: todos aqueles que acreditam na unicidade de D’us possuem um sinal corporal que os une. O homem executa esse ato no seu filho somente em conseqüência de uma crença genuína. É também conhecido o quanto amor e ajuda mútua existem entre as pessoas que ostentam o mesmo sinal, formando para elas uma espécie de aliança. A circuncisão é uma aliança feita por Avraham, nosso pai, com vistas à crença na unicidade de D’us, como está escrito: "Para ser um D’us para ti e para tua semente depois de ti" (Bereshit 17:7). Esta é uma forte razão para a causa da circuncisão – talvez seja ainda mais forte do que a primeira. A circuncisão é realizada no oitavo dia, porque os seres vivos são muito frágeis e excessivamente tenros ao nascer, como se ainda estivesse no útero. (Maimônides parecia estar aludindo ao que hoje é reconhecido como icterícia, que pode se manifestar nos primeiros dias de vida). A circuncisão no oitavo dia evita o sangramento que pode ocorrer na primeira semana de vida, devido a deficiências no fator de coagulação, permitindo a maturação do sistema de conjugação dos pigmentos da bílis. Crueldade contra animais A crueldade gratuita contra animais é proibida pela Lei Judaica, uma proibição que os Sábios deduziram da Torá. Quem impedir um animal de se alimentar enquanto estiver trabalhando estará sujeito a punição. Ademais, se o animal estiver sedento, a obrigação é dar-lhe de beber. Entretanto, se aquilo que o animal estiver ingerindo for danoso ao seu organismo e lhe fizer mal, será permitido impedi-lo de comer. De fato, o animal deverá ser alimentado antes mesmo do ser humano, no entanto quando se refere à sede, o ser humano tem prioridade. Shechita (abate ritual) O mandamento referente ao abate de animais é necessário, pois o alimento natural do homem consiste de plantas derivadas de sementes que crescem na terra e da carne dos animais. Os melhores tipos de carne são aqueles que nos são permitidos (i.e., casher). Nenhum médico ignora este fato. Como a necessidade de obter bons alimentos requer que os animais sejam mortos, a meta é matá-los da maneira mais branda possível. É proibido torturá-los de modo a perfurar a parte abaixo de sua garganta ou decepar um de seus membros. É igualmente proibido abater o "animal e o seu filhote no mesmo dia" (Vayicrá 22:28), sendo esta uma medida de precaução para não matar a cria diante da mãe, pois nestes casos os animais sentem uma dor intensa, idêntica à do ser humano. Citações de Rambam "A verdade não se torna mais verdadeira porque o mundo inteiro concorda com ela, nem menos verdadeira, mesmo que o mundo inteiro discorde dela". More Nevuchim II:15 "O alicerce de todos os fundamentos e princípios básicos da Torá, e o pilar de todas as sabedorias é: compreender que há um Ser Supremo que traz todo ser criado para a existência. Todas as coisas existentes – no céu, na terra, e o que há entre eles – resultaram somente a partir da verdadeira existência de D’us. Se imaginássemos que Ele não existe, nada mais poderia ter existência."Parágrafo inicial do Mishnê Torá "Há coisas que estão dentro do âmbito e da capacidade de apreensão da mente humana; há outras que o intelecto não pode, de maneira alguma, captar – as portas da percepção estão fechadas."More Nevuchim I:31 "Compete-nos amar e temer a D’us, pois está escrito: ‘Amarás o Senhor teu D’us’ (Devarim 6:5) e ‘Temerás o Senhor, teu D’us’ (Devarim 6:13).Como se chega a amar e temer a D’us? Quando alguém reflete sobre as grandes e maravilhosas obras de D’us e Suas criaturas, percebendo nelas a infinita e ilimitada sabedoria Divina, ele será levado a amar, exaltar e glorificá-Lo, ansiará por conhecer o Onipotente… Ao meditar mais sobre estes assuntos, ele recuará atemorizado, compreendendo que é uma criatura ínfima, dotada de inteligência limitada, e que está na presença d’Aquele que é perfeito no saber…" Mishnê Torá, Yessodei Hatorá, II:1-2 Comentário final Nas áreas da lei e da filosofia, as contribuições de Maimônides ao pensamento judaico são ímpares. Seu Comentário à Mishná, Mishnê Torá e Guia Para os Perplexos são cada qual um marco na história do pensamento judaico. De fato, a extensão da influência de Maimônides sobre eruditos de épocas posteriores talvez seja melhor expressa pelo dito que está gravado sobre sua tumba em Tiberíades em Israel: "De Moshê (Moisés) a Moshê (Maimônides), nunca houve ninguém como Moshê." | ||||||
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Maimônides: O Rambam
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