sábado, 3 de setembro de 2011

Turquia expulsa embaixador de Israel


Ancara exige desculpas pela morte de nove ativistas na flotilha de Gaza, no ano passado

03 de setembro de 2011 | 0h 00

Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / NOVA YORK
Ataque. O Mavi Marmara era a principal embarcação da flotilha interceptada em águas internacionais por forças de Israel - Ariel Schalit/AP-3152010
ARIEL SCHALIT/AP-3152010
Ataque. O Mavi Marmara era a principal embarcação da flotilha interceptada em águas internacionais por forças de Israel.


A Turquia anunciou ontem a expulsão do embaixador de Israel, suspendeu os acordos militares entre os dois países, disse que não reconhecerá mais o bloqueio a Gaza e dará suporte a todas as vítimas da flotilha que tentou levar ajuda humanitária aos palestinos no ano passado - na ocasião, nove ativistas turcos morreram após ação israelense para evitar a chegada dos navios ao território controlado pelo Hamas.
De acordo com comunicado da Embaixada da Turquia em Washington, o país pretende processar na Justiça soldados e oficiais de Israel e não descarta a possibilidade de levar a questão para o Conselho de Segurança da ONU. "Reduzimos nossas relações diplomáticas com Israel para o nível mais baixo possível, de segundo-secretário", disse o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu.
O embaixador israelense em Ancara, Gaby Levy, já estava em Jerusalém e não deverá retornar para a Turquia. Os diplomatas turcos em Tel-Aviv devem ser removidos o mais rápido possível. Segundo Davutoglu, em um claro desafio a Israel, "a Turquia tomará todas as medidas necessárias para garantir a liberdade de navegação no Mediterrâneo", o que implica permitir que barcos turcos viajem para Gaza, ignorando o bloqueio de Israel e colocando os dois países em rota de colisão.
A decisão do governo turco foi tomada depois da publicação, na quinta-feira, de um relatório da ONU sobre a flotilha de Gaza, interceptada em maio de 2010. O documento diz que o bloqueio de Israel ao território palestino é legal, mas a reação dos militares israelenses, mesmo tendo sido recebidos com hostilidade e violência pela tripulação, foi excessiva.
Violência. De acordo com a investigação da ONU, cinco dos nove mortos foram alvejados por trás. Os soldados israelenses também dispararam contra órgãos vitais de sete vítimas múltiplas vezes.
Segundo a Turquia, Israel deveria se desculpar publicamente pela morte dos turcos e pagar indenizações. "Reafirmamos que não normalizaremos as relações com os israelenses enquanto não recebermos um pedido de desculpas e o pagamento de compensação pelo que eles fizeram", diz o comunicado da Embaixada da Turquia nos EUA.
Em Israel, o gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu buscou evitar atritos ao publicar comunicado dizendo que "o Estado de Israel quer encontrar uma forma de superar as discordâncias com a Turquia e se esforçará nesse sentido".
O governo israelense também lamenta as mortes dos nove turcos que estavam na flotilha, mas não aceita pedir desculpas pelos atos de seus soldados. Segundo Israel, eles agiram em legítima defesa. No entanto, não houve reação às medidas anunciadas pela Turquia.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, reuniu-se ontem com Davutoglu para tentar contornar a situação e evitar um agravamento ainda maior da crise, mas não obteve sucesso. O conflito entre os dois países coloca os americanos em uma situação delicada, já que ambos são aliados importantes de Washington na região e são fundamentais para a estabilidade do Oriente Médio e do Norte da África durante a primavera árabe - tanto a Turquia quanto Israel fazem fronteira com a Síria.
Nos últimos meses, os EUA tentaram promover uma reaproximação entre os dois países e, até a divulgação do relatório da ONU, haviam conseguido um relativo sucesso.
Condenação. O bloqueio a Gaza foi imposto depois que o Hamas assumiu o controle do território e intensificou sua campanha de lançamentos de foguetes contra o sul de Israel. Segundo os israelenses, essa era uma das poucas alternativas para impedir o contrabando de armas para a organização palestina pelo Mediterrâneo. Os palestinos e ativistas pró-Palestina ao redor do mundo classificam o bloqueio como uma "punição coletiva".
PARA LEMBRAR
Os turcos, na época, mediavam a paz entre Israel e a Síria e estavam próximos de um acordo. Dias antes de tornar as negociações públicas, os israelenses iniciaram a campanha contra o Hamas em Gaza, sem consultar ou avisar a Turquia, irritando Erdogan. 
A Turquia sempre foi um dos aliados de Israel no Oriente Médio desde a independência do país, em 1948. Por décadas, as duas nações tiveram alianças estratégicas nas áreas de inteligência e militar e turismo. As relações começaram a se deteriorar após a Guerra de Gaza, em janeiro de 2009, quando o premiê da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, discutiu publicamente com o presidente de Israel, Shimon Peres, em Davos, na Suíça.

ESTADO.COM.BR - Internacional

 

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