Homenagem ao "Dia Nacional da Consciência Negra" (20 de novembro).
Texto de More Ventura, professor de História Judaica e
membro do Fórum Interreligioso do Estado de São Paulo
Os tambores da guerra soavam no Oriente Médio. O Iraque de Saddam Hussein invadira o Kuwait. O ano era mil novecentos e noventa e um. Saddam dizia ter sido instruído pelo anjo Gabriel a lançar mísseis contra Israel. George Bush Pai, costurava uma coalizão com diversos países Árabes, que condicionavam sua participação na luta contra o Iraque a não participação de Israel na guerra. Na Russia, a Glasnost, política de flexibilização do governo soviético, trazia em seu bojo a tão sonhada liberdade para um milhão de judeus soviéticos desejosos de migrar para a terra santa, que mesmo sob o ritmo dos tambores bélicos, recebia os novos cidadãos de braços abertos. América do Norte, Europa, Oriente Médio e Ásia. Para fechar a conexão internacional só faltava a América Latina. Então chegamos ao nosso destino: Jundiaí, São Paulo, Brasil. Ali estava eu no sitio Fortuna, de propriedade de meu tio avô Luiz, sentado numa poltrona carcomida pelo tempo e pelas traças, assistindo a velha televisão, quando chegou a terrível notícia, num flash da finada TV Manchete: -“Urgente! Vários mísseis provenientes do Iraque cairam em Israel. Os Hospitais estão lotados e há centenas de mortos.” - (Erro do correspondente) -Sentindo o calor da guerra e de meu sangue adolescente fervendo em minhas entranhas, ensaiei uma bicuda no velho aparelho de televisão, mas logo concluí, (de modo muito maduro), que esta atitude não enfraqueceria o ataque de Saddam aos meus irmãos israelenses, mas enfraqueceria sim, a minha posição perante meu tio-avô! A frenética ação de minha imaginação dominava a impotência gerada pela impossibilidade de agir. A bateria de meu coração abafava o temor produzido pelos tambores da guerra e logo a letra da música que acompanharia o meu frenético compasso cardiáco estava composta: -Vou para Israel! Vou para Israel! Vou para Israel! Como alguém em sã consciência pode escolher a guerra à paz ? Haifa bombardearda à Jundiai no verão? E então meus amigos, sabem o que acontece com alguém que faz tão incauta escolha? Vai parar no... céu! E ali estava eu depois de um mês, no céu! Após a escala no aeroporto de Roma subi no avião da El Al a companhia aérea israelense, rumo a Israel. Fiz tudo conforme manda o figurino: Pisquei para as aeromoças, apertei as mãos dos “aeromoços" e procurei lugares vagos para poder me deitar. Estava tudo indo maravilhosamente bem, até que percebi que...havia tomado o vôo errado! Sim! Só posso ter errado! Aquele não era um vôo para Israel e sim para a Africa provavelmente Botswana ou Suazilandia. E como eu sabia que errei o vôo ? Ora, isso era óbvio, pois meus companheiros de viagem eram todos negros que usavam roupas que mais pareciam lençóis enrolados no corpo e falavam um idioma muito diferente do hebraico. Quando perguntei o nome de seu país de orígem, recebi a resposta: somos judeus da Etiopia e estamos migrando para Israel! Naquele mesmo momento eu soube que o som dos tambores da guerra havia sido extintos e havia sido substituído por outro batuque: o dos tambores da paz! Após milhares de anos de exílio, a tribo perdida de Dan, composta pelos judeus da Etiópia, retornava ao berço de seu povo: a terra de Israel ! Este era o final de uma história: a do exílio dos judeus negros da Etiópia. Este era o inicio de duas histórias: a da chegada dos Judeus Etiopes à Terra Prometida e a da minha chegada, tão maravilhosamente bem acompanhado às mesmas sagradas terras! |
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