Por Tzvi Freeman | ||||
Pergunta: Você fica louvando as mitsvot como coisas que D'us quer que façamos. Mas se isso fosse verdade, por que Ele não criou o universo dessa maneira? Se Ele não quer que comamos carne de porco, por que fez o animal comestível? Se Ele quer que os homens sejam circuncidados, por que eles não nasceram assim? Por que ficamos mexendo na maneira pela qual Ele fez as coisas – e alegamos que estamos fazendo a Sua vontade? Resposta: Engraçado, recebo muitas vezes essa pergunta sobre circuncisão – mas ninguém jamais perguntou sobre furar a orelha, barbear ou remover pelos. Parece que isso é muito antigo, porque a Rabi Yehuda, o Príncipe, o famoso redator da Mishná, também foi feita essa pergunta por algum filósofo romano. À típica maneira judaica, ele respondeu que a mesma pergunta poderia ser feita sobre cortes de cabelo – por que não deixar crescer? Ou sobre o cereal crescendo no campo – por que em vez dele não crescem os pães? Da mesma forma, eu poderia perguntar por que D'us faz terremotos e então exige que vamos lá salvar as pessoas. Por que fazer as doenças e então exigir que criemos remédios e a cura? E se devemos usar roupas, suponho que Ele deveria nos ter feito peludos, certo? A resposta de Rabi Yehuda foi que tudo que D'us fez em Seu mundo requer algum tipo de conserto. É assim que a história da criação no Gênesis resume tudo: “… toda a Sua obra que D'us criou para fazer.” Fazer, dizem os Sábios, significa consertar. A pergunta permanece, por quê? Se Ele quer que seja consertado, por que não consertar Ele próprio? Ou melhor ainda, não fazer quebrado, para começo de conversa. A resposta tem mais que uma forma fascinante: 1 – Nos tornar parceiros Dar-nos as mitsvot é o supremo ato de generosidade. Se Ele tivesse feito um mundo perfeito e nos colocasse aqui para desfrutar, Ele teria realmente nos considerado parasitas. Ao deixar algumas coisas incompletas e nos instruir a completá-las, Ele nos transforma em parceiros da Sua obra criativa. E qual aspecto da Sua obra criativa? Aquele que preenche seu verdadeiro objetivo inteiror. Seu desejo mais íntimo. 2 – Tornar-nos reais Vamos um pouco mais longe. Imagine um mundo tirado da imaginação de D'us, comportando-se exatametne da maneira que Ele desejava que se comportasse. O que há de real ou significativo sobre essa criação? O que a torna mais que uma fantasia caprichosa? Imagine que você acaba de criar Pinocchio. Imagine que você quer que Pinocchio seja seu menininho. Mas imagine que Pinocchio não tem livre arbítrio, e mesmo que tivesse, tudo tinha sido colocado para ele sem nenhuma opção para ele expressar seu livre arbítrio. Pinocchio não é seu menininho, é apenas um pedaço de madeira lindamente talhada portando suspensórios. Voltando a nós, os personagens conscientes dentro daquela criação, e dizendo: “Por favor faça isso…” D'us nos deu o livre arbítrio, juntamente com as áreas nas quais expressar o livre arbítrio. As mitsvot, então, são os elementos que nos tornam reais, para nos tornar “um outro significativo”. Ou, na linguagem da Torá, kadosh – que traduzimos como sagrado. Não somente nós, mas também todos os objetos e atividades que estão implicados na mitsvá, são considerados importantes e kadosh. O que, por falar nisso, resolve um enigma na história da vida do patriarca Avraham. Quase aos cem anos de idade, Avraham passou pela circuncisão. Mas ele não sabia antes que a circuncisão era um ato desejável para pessoas espirituais como ele próprio, tentando se aproximar de D'us? A pergunta é especialmente aguda segundo a declaração do Talmud de que Avraham cumpriu a Torá inteira embora ela ainda não tivesse sido outorgada.2 Então por que ele deixou de fora uma mitsvá não-menor até que isso fosse dito a ele? Nossa resposta, porém, resolve o enigma. Se Avraham tivesse realizado a circuncisão antes de ser ordenado, ele a estaria fazendo como qualquer outro ser criado fazendo algo de bom. Uma vez que D'us declarou que esta é agora Sua vontade oficial que Avraham e os homens de sua família fossem circuncidados, o ato da circuncisão se torna uma mitsvá, tornando o corpo do circuncidado significativo e kadosh. Pois a circuncisão, ao contrário de outras mitsvot, é uma oportunidade única, Avraham esperou pela ordem de D'us antes de optar por fazer. 3 – Esta é a maneira pela qual os desejos interiores funcionam Mergulhando ainda mais profundamente em busca do intelecto intrépido, esta é uma distinção inerente entre os desejos secundários e primários. Está se sentindo intrépido? Fique ali. Vamos começar com um paralelo sobre o ser humano. Também temos desejos intrínsecos, básicos, por baixo da superfície de nossa consciência – por exemplo, o desejo por bens, por amor, pela confirmação da nossa existência – sejam quais forem e de quais maneiras deseja expressá-los. Esses desejos aparecem na forma de desejos secundários: ganhar dinheiro, ter boa aparência, competir – todas as loucas corridas dos seres humanos neste planeta. Agora olhe a maneira pela qual esses dois tipos de desejos se manifestam. Os desejos secundários aparecem de imediato e espontaneamente, Os desejos interiores, os primários, por outro lado, se desenrolam gradualmente, às vezes após muitos anos – em alguns casos, nunca sendo realizados. Passamos nossa vida inteira raramente, ou nunca, entendendo por que fazemos todas as coisas que fazemos. Por que é assim, que os desejos interiores não se manifestam espontaneamente, mas se desenvolvem? Rabi Shalom DovBer de Lubavitch explicou: Se um desejo tem qualquer expressão externa, já não é o verdadeiro você. Assim que você pode saber sobre ele e senti-lo, agir sobre ele, já é um movimento para longe do seu âmago interior. Ironicamente, por este paradigma, as mais profundas expressões da vontade Divina são aqueles atos que Ele não nos disse expressamente para fazer, mas que as comunidades judaicas derivaram por meio de estudo e celebração de Sua Torá. Alguns exemplos são as ordens rabínicas e salvaguardas, costumes e embelezamentos conhecidos como hiddur mitsvá. Nós, como comunidade, decidimos enviar presentes de comida uns aos outros em Purim, comer frutas em Tu Bishvat, dançar com a Torá no dia em que concluímos seu ciclo de leitura. Estas são a mais bela expressão de desejo próximo ao âmago – que aquilo que não pode ser ordenado ou dito, às vezes nem sequer mencionado numa nuance do texto, mas sentido somente por aqueles que estão imersos com toda a alma em sua Torá com amor. Parece mais que levemente absurdo aplicar a psicologia humana Àquele que criou seus desígnios para começar. Na verdade, essa ideia aplica-se a Ele no sentido mais absoluto. Somos apenas uma imitação barata, criados dessa maneira, “À Sua iimagem,” portanto podemos chegar a algum entendimento de Suas obras com este mundo, examinando a nós mesmos com mais profundidade. Veja, nossos desejos interiores são inatos: como somos seres humanos, desejamos bens, amor, etc. Nossos desejos na verdade são necessidades. O Criador não tem necessidades; Ele é inteiramente livre em todos os aspectos para escolher aquilo que Ele quer desejar. Quando Ele escolheu, porém, então certas necessidades surgem no lugar. Como aquelas necessidades são concebidas pela necessidade, vêm à existência por necessidade. Mas como os desejos interiores são escolhidos pela Sua livre vontade, eles estão manifestos em nosso mundo através do nosso livre arbítrio. Tomemos um exemplo: D'us decide desejar que o sétimo dia seja um dia de descanso, para que Criador e criatura possam unir-se num estado de não-movimento. Este é um desejo interior – nada o precedeu, exigindo que devia ser assim. Mas uma vez que o desejo está no lugar, agora há uma necessidade para um mundo que seja criado em seis dias, para que no sétimo, D'us descanse, e Seus seres criados descansarão junto com Ele. O segundo desejo apareceu espontaneamente, e portanto é manifesto da mesma maneira: D'us nunca pede à criação para criar-se em seus dias, ou proíbe que seja criada em cinco ou sete ou de qualquer outra maneira. Ele dita e assim acontece. O desejo primário, porém, de que devemos descansar juntos, aparece como mitsvá: assim como D'us o escolheu por Sua livre vontade, também o ser humano deve escolher por livre arbítrio observar o Shabat. Outro exemplo: D'us escolheu por livre vontade que haverá seres conscientes dentro de Sua criação que vão declarar Sua Unicidade toda manhã e toda noite – “Shema Yisrael”. Da mesma forma, deve haver manhã e deve haver noite. Isso implica que nós, criaturas vivendo num planeta onde escuridão e luz se alternam, o que por sua vez é cumprido por um simples relacionamento entre os movimentos de nosso planeta e de um globo além de nós. Mais uma vez, os padrões da natureza são colocados de maneira firme, ao passo que o desejo subjacente que fez surgirem aqueles padrões é deixado como um evento do usuário. E mais uma: D'us escolheu desejar que os seres físicos façam um pacto com Ele através de seus corpos físicos – e por implicação deve haver fisicalidade, corpos, e um certo lugar no corpo para a circuncisão. Aquilo que existe por implicação se torna a ordem natural, ocorrendo espontaneamente dentro do nosso mundo natural. O desejo mais interior é deixado para nós escolhermos, e para cumprirmos. Junto com a nossa opção de resgatar sobreviventes, curar os doentes e fazer tudo que pudermos, ou consertar o mundo. Notas: 1 – Gênesis Rabá 11:6 2 – Talmud, Yoma 28 b; Leviticus Rabá 2:9. | ||||
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