A última chance
Amos Yadlin, diretor do Instituto Nacional de Estudos de Segurança de Israel
No dia 07 de junho de 1981, eu era um dos 8 pilotos de Israel que bombardeou o reator nuclear iraquiano em Osirak. Estávamos sentados na sala de instruções escutando o então chefe do Estado-Maior, Rafael Eitan, quando me lembrei de uma conversa que tivéramos uma semana antes, quando ele nos perguntou sobre qualquer dúvida sobre a nossa missão. Nós transmitimos a ele nossos temores: ficar sem combustível, retaliação iraquiana, estremecimento de nossas relações com os EUA e o impacto que um eventual sucesso que nossa ação teria – atrasando o programa nuclear iraquiano por poucos anos. Ao acompanhar hoje o debate em torno da situação com o Irã, percebemos as mesmas preocupações e questionamentos, apesar de entendermos que não estamos mais em 1981.
Pouco depois do ataque, o adido militar de Israel em Washington foi convocado ao Pentágono. Ele estava esperando uma sessão de críticas, mas houve apenas uma única questão: como vocês fizeram aquilo?! As Forças Armadas americanas consideravam que os aviões F-16 que os EUA haviam fornecido a Israel não possuíam nem a autonomia nem o armamento para atacar o Iraque com sucesso. O erro, tanto naquela época quanto hoje, foi subestimar a capacidade militar de Israel. Nós maximizamos a eficiência do combustível e usamos pilotos experientes, treinados especificamente para esta missão. Nós ejetamos nossos tanques externos na ida para o Iraque e atacamos a usina tão de perto e a tão baixa altitude, que nossas bombas de queda livre (sem direção) eram tão acuradas e efetivas
Hoje, Israel se defronta com uma ameaça mortal, um Irã nuclear que clama pela nossa destruição. Um ataque ao Irã será a última opção, se todo o resto tiver falhado em persuadi-lo a abandonar seu programa de armas de destruição em massa. Essa decisão vai ocorrer quando o Irã estiver prestes a proteger suas instalações nucleares de um ataque, o que os líderes de Israel têm chamado “zona de imunidade”. Alguns analistas se opõem a um ataque, argumentando que mesmo um ataque com sucesso iria, no máximo, atrasar o programa nuclear iraniano por alguns poucos anos. Mas essa análise é incompleta. Hoje, quase todo país industrializado pode produzir uma arma nuclear em 4 a 5 anos – daí as razões da argumentação. Mas o que importa são os desdobramentos depois do ataque. Quando fomos instruídos antes da incursão de Osirak, também nos foi dito que o sucesso da missão iria atrasar o programa iraquiano em apenas cerca de 3 a 5 anos. Mas a história foi diferente.
Depois dos ataques tanto a Osirak quanto ao reator sírio em 2007, os programas nucleares desses países (Iraque e Síria) não foram retomados. Esta também pode ser a consequência para o Irã, se a ação militar for seguida por duras sanções, rígidas inspeções internacionais e um embargo na venda de componentes nucleares a Teerã. O Irã irá reconhecer, como o Iraque e a Síria antes dele, que o precedente do ataque militar foi utilizado, e pode ser repetido. Outros argumentam que um ataque desestabilizaria a região. Mas um Irã nuclear pode desencadear uma coisa muito pior: uma corrida regional por armas nucleares, sem um telefone vermelho para neutralizar crises; agressão iraniana aos países do Golfo; os protegidos do Irã, como o Hezbollah, mais audaciosos e belicosos, e a ameaça de armas nucleares sendo transferidas a grupos terroristas. Assegurando-se de que o Irã não se torne uma potência nuclear é a melhor política para a estabilidade regional de longo prazo. Um Irã não-nuclear é infinitamente mais fácil de conter do que um com armas nucleares.
O problema é o tempo. Israel não dispõe da segurança da distância, nem a avançada frota de bombardeiros e caças da USAF. Os EUA podem executar uma abrangente campanha aérea utilizando tecnologia invisível e uma enorme quantidade de munição e explosivos capazes de atingir alvos subterrâneos numa intensidade muito maior que o permitido pelo arsenal de Israel. Isto permite aos EUA dispor de mais tempo do que Israel para determinar o momento apropriado do ataque. E à medida que essa decisão se aproxima, as tensões se elevam.
Obama e Netanyahu se encontraram em Washington. De todos os seus encontros anteriores, este deve ter sido o mais crítico. Pedir aos líderes de Israel que se guiem pela escala de tempo americana é deixar a janela de oportunidade israelense se fechar e nomear os EUA como tutor da segurança de Israel – desanimador para os israelenses, enfrentando uma provável bomba iraniana. Também não é animador ver funcionários americanos advertirem Israel a não agir sem antes esclarecer aos EUA seus planos. Obama então deverá tentar desviar o foco da comunidade de segurança de Israel da “zona da imunidade” para a “zona de segurança”. Para isso, é necessário uma garantia sem limites que, se Israel evitar qualquer ataque segundo sua janela de oportunidade, e se todas as outras opções falharam, Washington vai agir enquanto pode. Eu espero que Obama defina bem isso. Mas senão, Israel deverá agir enquanto ainda tem condições para isso.
Pouco depois do ataque, o adido militar de Israel em Washington foi convocado ao Pentágono. Ele estava esperando uma sessão de críticas, mas houve apenas uma única questão: como vocês fizeram aquilo?! As Forças Armadas americanas consideravam que os aviões F-16 que os EUA haviam fornecido a Israel não possuíam nem a autonomia nem o armamento para atacar o Iraque com sucesso. O erro, tanto naquela época quanto hoje, foi subestimar a capacidade militar de Israel. Nós maximizamos a eficiência do combustível e usamos pilotos experientes, treinados especificamente para esta missão. Nós ejetamos nossos tanques externos na ida para o Iraque e atacamos a usina tão de perto e a tão baixa altitude, que nossas bombas de queda livre (sem direção) eram tão acuradas e efetivas
Hoje, Israel se defronta com uma ameaça mortal, um Irã nuclear que clama pela nossa destruição. Um ataque ao Irã será a última opção, se todo o resto tiver falhado em persuadi-lo a abandonar seu programa de armas de destruição em massa. Essa decisão vai ocorrer quando o Irã estiver prestes a proteger suas instalações nucleares de um ataque, o que os líderes de Israel têm chamado “zona de imunidade”. Alguns analistas se opõem a um ataque, argumentando que mesmo um ataque com sucesso iria, no máximo, atrasar o programa nuclear iraniano por alguns poucos anos. Mas essa análise é incompleta. Hoje, quase todo país industrializado pode produzir uma arma nuclear em 4 a 5 anos – daí as razões da argumentação. Mas o que importa são os desdobramentos depois do ataque. Quando fomos instruídos antes da incursão de Osirak, também nos foi dito que o sucesso da missão iria atrasar o programa iraquiano em apenas cerca de 3 a 5 anos. Mas a história foi diferente.
Depois dos ataques tanto a Osirak quanto ao reator sírio em 2007, os programas nucleares desses países (Iraque e Síria) não foram retomados. Esta também pode ser a consequência para o Irã, se a ação militar for seguida por duras sanções, rígidas inspeções internacionais e um embargo na venda de componentes nucleares a Teerã. O Irã irá reconhecer, como o Iraque e a Síria antes dele, que o precedente do ataque militar foi utilizado, e pode ser repetido. Outros argumentam que um ataque desestabilizaria a região. Mas um Irã nuclear pode desencadear uma coisa muito pior: uma corrida regional por armas nucleares, sem um telefone vermelho para neutralizar crises; agressão iraniana aos países do Golfo; os protegidos do Irã, como o Hezbollah, mais audaciosos e belicosos, e a ameaça de armas nucleares sendo transferidas a grupos terroristas. Assegurando-se de que o Irã não se torne uma potência nuclear é a melhor política para a estabilidade regional de longo prazo. Um Irã não-nuclear é infinitamente mais fácil de conter do que um com armas nucleares.
O problema é o tempo. Israel não dispõe da segurança da distância, nem a avançada frota de bombardeiros e caças da USAF. Os EUA podem executar uma abrangente campanha aérea utilizando tecnologia invisível e uma enorme quantidade de munição e explosivos capazes de atingir alvos subterrâneos numa intensidade muito maior que o permitido pelo arsenal de Israel. Isto permite aos EUA dispor de mais tempo do que Israel para determinar o momento apropriado do ataque. E à medida que essa decisão se aproxima, as tensões se elevam.
Obama e Netanyahu se encontraram em Washington. De todos os seus encontros anteriores, este deve ter sido o mais crítico. Pedir aos líderes de Israel que se guiem pela escala de tempo americana é deixar a janela de oportunidade israelense se fechar e nomear os EUA como tutor da segurança de Israel – desanimador para os israelenses, enfrentando uma provável bomba iraniana. Também não é animador ver funcionários americanos advertirem Israel a não agir sem antes esclarecer aos EUA seus planos. Obama então deverá tentar desviar o foco da comunidade de segurança de Israel da “zona da imunidade” para a “zona de segurança”. Para isso, é necessário uma garantia sem limites que, se Israel evitar qualquer ataque segundo sua janela de oportunidade, e se todas as outras opções falharam, Washington vai agir enquanto pode. Eu espero que Obama defina bem isso. Mas senão, Israel deverá agir enquanto ainda tem condições para isso.
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