quarta-feira, 14 de março de 2012

O irmão de Rebe Zussia e Reb Elimelech



 

Dois irmãos, Reb Zussia e Reb Elimelech, eram homens muito piedosos e instruídos que estavam entre os mais estimados chassidim de Rabi Dov Ber, o Maguid de Mezeritch, sucessor do Báal Shem Tov. Com o passar do tempo e a dificuldade de comunicação, Reb Zussia e Reb Elimelech perderam contato com um terceiro irmão, que não era chassid.


Os dois irmãos, no decorrer de suas muitas viagens, perguntavam sobre o outro irmão e tentavam descobrir seu paradeiro. Ficaram curiosos para saber que tipo de vida ele estava levando. Seria religioso como eles próprios, ou tinha ele, D’us não o permita, abandonado os ensinamentos da Torá? E mesmo se fosse religioso, seria correto em sua prática, preocupado apenas pela letra da lei e não pelo espírito da lei?

E assim, em cada aldeia e cidade que visitavam, ao divulgar o ensinamento de seu mestre, o Maguid, eles indagavam se alguém conhecia o paradeiro do irmão. Por mais que tentassem, não conseguiam qualquer informação. Mesmo assim, persistiam nesta missão que tinham imposto a si próprios.

Quando finalmente tiveram alguma informação sobre o endereço do irmão, Reb Zussia e Reb EIimelech se alegraram. Mesmo assim, havia uma certa dose de hesitação nessa alegria pois, após doze anos de separação, não sabiam o que aquela reunião poderia trazer.

E assim, com alguma empolgação, os dois irmãos se dirigiram a uma pequena aldeia onde seu irmão era estalajadeiro. Reb Zussia e Reb Elimelech entraram na estalagem e observaram o irmão trabalhando. Ele esteve ocupado o dia inteiro recebendo os hóspedes, preparando os quartos e cozinhando. Corria de uma pessoa a outra, de tarefa em tarefa, com um semblante alegre, e tratava cada hóspede, fosse rico ou pobre, gentilmente. Com uma longa barba, tsitsit e casaco preto, Reb Zussia e Reb Elimelech certificaram que o irmão de fato tinha permanecido fiel à Torá mesmo naquela aldeia isolada.

Ainda assim, uma questão permanecia sem resposta para Reb Zussia e Reb Elimelech. Estes dois mestres chassídicos eram famosos por sua humildade. Porém, evidentemente, a humildade não impede o fato de eles saberem que havia algo de especial sobre eles. Poderiam ter se considerado indignos das notáveis qualidades que D’us lhes concedera, mas negar sua singularidade seria como negar um dom precioso. E assim, perguntavam-se eles, havia algo de excepcional no irmão, também, e no seu serviço ao Criador?

Caiu a noite na estalagem do irmão. A maioria dos hóspedes já tinha chegado e a furiosa atividade das horas do dia tinha amainado. Reb Zussia e Reb Elimelech observaram o irmão confiar algumas tarefas à esposa e entrar no escritório. Ali, ele rezou o serviço noturno e então debruçou-se sobre seus livros sagrados até tarde.

Os irmãos com isso ficaram reassegurados, mas não se espantaram; não era incomum para um judeu trabalhar o dia inteiro e então passar suas horas de "lazer" na prece e estudo de Torá. No entanto, a atividade seguinte do irmão foi deveras incomum. Reb Zussia e Reb Elimelech observaram enquanto o irmão começou a recitar o Shemá antes de dormir. Em meio às preces antes de se retirar, o irmão tirou um livro bastante gasto e abriu-o no final.

Durante alguns longos momentos ele permaneceu imóvel, consultando uma página do livro. "Quanto pode estar registrado em uma página, para ele demorar tanto tempo para ler?" 
perguntavam-se eles. Continuaram a vigiar, curiosos. Com o passar do tempo, viram o irmão começar a estremecer. Lágrimas rolaram de seus olhos, caindo na página do livro à sua frente. Numa voz baixa, trêmula, o ouviram ler no livro: "Não servi este hóspede hoje com a honra devida a um irmão judeu… Fui muito rápido ao responder a esta pessoa quando ela me fez uma pergunta…" E assim, ele continuou a lista de seus "pecados", que tinha escrito no livro manchado pelas lágrimas.

Reb Zussia e Reb Elimelech observaram enquanto o irmão continuava a chorar e a ler o livro, até que as palavras na página literalmente desapareceram. Fosse pelas lágrimas, ou por um milagre que lavara seus "pecados", o irmão sabia que quando suas faltas não estivessem mais na página, seu arrependimento sincero tinha sido aceito.

Os irmãos pensaram nos pais, e perguntaram-se que ações notáveis tinham realizado para merecerem um filho tão especial.

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