quinta-feira, 22 de março de 2012

Por que não-judeus precisam apenas de 7 mitsvot, ao passo que os judeus precisam de 613? índice

 
Parece-me que quanto mais refinada e espiritual uma pessoa é, menos precisa de mandamentos, pois ela própria entende o que é certo e errado. Assim como uma criança, que precisa de mais regras que um adulto. Seguindo essa lógica, por que não-judeus precisam apenas de sete mitsvot, ao passo que os judeus precisam de 613? 

RESPOSTA:
Por Tzvi Freeman
Você teve uma pista, mas perdeu a outra. Isso tem a ver com a sua linguagem. Chame-a de “fixação na coisa”.
Este é provavelmente o maior desastre da sua infância – não o de ser desmamado, não o de abandonar as fraldas, não o de sentar-se na carteira na primeira série – mas quando você aprendeu sobre coisas.

Não quero dizer “você aprendeu sobre as coisas do mundo.” Quero dizer, você aprendeu sobre a ideia de coisas. Você aprendeu que o mundo é feito de coisas, objetos, troços materiais que simplesmente “estão ali”. Mais tarde na vida, você começou a correr atrás dessas coisas, acumulando-as, ajuntando mais e mais quantidade de coisas para encher sua casa, seu quintal e sua garagem. A essa altura, o mundo inteiro foi reduzido em sua mente a nada além de uma caçamba repleta de coisas. Então até mesmo D'us acaba sendo definido como uma coisa – e você está tentando encontrar o local onde Ele se encaixa. Porque, afinal, todas as coisas se encaixam em algum lugar.

Quando você acordou para a vida quando criança pequena, não era assim. Não havia coisas. Havia apenas a experiência de ser. De sentir, de viver, de respirar e fazer. Gritar, mamar, arrotar. Aquilo tudo era real. Aquilo tudo é vida. As coisas não são reais, As coisas são ficção. Elas não existem. Nós as criamos.

O Nascimento da “Coisisse”
Como as coisas vieram a existir? Aqui está minha ideia sobre isso.

No princípio, não havia coisas. Toda a humanidade conhecia a vida como faz uma criança pequena, até que cresça e fique mais esperta. Mas então alguém entrou em sua cabeça para desenhar todo o tipo de coisas que tinha. Por fim, os desenho se tornaram glifos, um recurso esperto para comunicação esotérica. Os amantes dos glifos – tais como os sacerdotes de culto do antigo Egito – criaram milhares de glifos para representar a ideia de uma “coisa” – uma foto estática de uma coisa distinta num momento congelado do tempo. A coisa nasceu. E o mundo jamais foi o mesmo.

Provas? Porque no hebraico antigo, bíblico, não há palavra para troço. Ou coisa. Nem objeto ou algo que o valha. No hebraico primitivo, cru, você não diz: “Ei, cadê aquela coisa que eu coloquei ali?” Você diz: “Onde está o desejado (chefetz) que eu coloquei aqui?” Você não diz: “O que é aquela coisa?” – você diz: “O que é aquela palavra?” Isso é o mais próximo que você consegue chegar da ideia de coisa: uma palavra. Toda a realidade é feita de palavras. Olhe na história da criação: todo o céu e a terra nada mais são que palavras.

De fato, no antigo hebraico, também não há realmente nomes. Nos idiomas como o inglês, ou português, os substantivos são os amos e os verbos são seus escravos, com adjetivos e formas associadas dançando em volta para servi-los. No hebraico, os verbos mandam. Grande, pequeno, sábio, tolo, rei, sacerdote, olho, ouvido – todos esses soam como coisas, mas no hebraico são formas de verbos. De fato, segundo Rabino Yeshayahu Horowitz (1560-1630), autor do clássico Shnei Luchot HaBrit, tudo em hebraico é realmente um verbo. Tudo é um evento, um acontecimento, um processo – fluindo, movendo-se, nunca estático. Assim como quando você era uma criança pequena.

Em hebraico, não há sequer o verbo no tempo presente. Há particípios, mas a ideia de um tempo presente somente surgiu mais tarde. No hebraico real, nada jamais é – tudo é movimento.

Isso se encaixa, porque o hebraico não foi escrito em glifos. O hebraico foi o primeiro idioma que conhecemos a ser escrito com símbolos que representam sons, não coisas. Com o alfabeto hebraico – a mãe de todos os alfabetos – você não vê as coisas, você vê sons. Até o processo de leitura é diferente: quando você lê glifos, a ordem não importa tanto. Você apenas olha e tudo está ali. Até os modernos glifos chineses podem ser escritos em qualquer direção. Com um alfabeto, a sequência é tudo. Nada tem significado por si mesmo. Tudo está no fluxo.

Entre no Fluxo
O fluxo é real. As coisas não são reais. Pergunte a um médico: quanto mais examinamos as coisas – aquilo que eles chamam de matéria – vemos que não estão ali. Tudo que realmente existe são os eventos: ondas, vibrações, campos de energia. A vida é um concerto, não um museu.
Pense sobre escrever música, em oposição a pintar um retrato. O artista dá um passo para trás e comtempla sua arte, sua captação imóvel de um momento congelado – e contempla tudo de uma só vez. Então ele educadamente pede ao modelo para fazer o favor de voltar à pose daquilo que agora se tornou a realidade, o retrato. Um retrato daquilo que é, mas nunca foi.
Um compositor de música não pode fazer isto. Você não pode congelar um momento da música – ela se desvanece assim que você tenta fazer isto. Como a coisa fictícia que chamam de matéria: congelada ao zero absoluto, sem energia, sem movimento, não existe mais. Porque, na verdade, tudo que existe é o fluxo do ser.

O Nome
O fluxo do ser: agora você encontrou D'us. De fato, em hebraico, este é o Seu Nome. O Nome de D'us é uma série de quatro letras que expressam todas as formas do verbo de todos os verbos, o verbo ser: é, foi, sendo, será, vai ser, fazendo ser, deveria ser – todos esses estão naquelas quatro letras do nome de D'us. Como disse D'us a Moshê quando ele perguntou Seu nome; “Eu sou aquilo que serei.”

Em nossas línguas modernas aquilo não funciona. Escorregamos rapidamente para a armadilha da “coisisse” outra vez. Quem é D'us? Respondemos: “Ele é Aquele que foi, é e será.”

Aqui vamos nós outra vez com a história de “a coisa que é”. Não, D'us não é uma coisa que é, foi ou será. D'us é o “ser” em si. Uau! A frustração da linguagem. Precisamos de palavras novas. Em hebraico você pode conjugar o verbo ser em todas as maneiras e ainda mais. Talvez no inglês ou português um dia façamos o mesmo. Até lá, somos como artistas usando aquarelas para imitar Rembrandt: como músicos tentando tocar músicas do meio-oeste em Dó Maior.

E a prova: fazemos perguntas que fazem sentido somente em inglês ou português, mas no hebraico são totalmente absurdas. Assim como: “D'us existe?” Em hebraico, há uma tautologia, algo equivalente a “A existência existe?”

Não há necessidade de “acreditar” neste D'us – se você sabe sobre o que estamos falando, você simplesmente sabe. Você saberá, também, que não há nada além desse D'us – o que há que fique de fora da “sersisse”?

Quanto à fé e à crença, estão reservadas para coisas maiores. Como acreditar que esta notável Sersisse que é tudo que importa, sabe, tem compaixão, pode ser compreendida. Em outras palavras, dizer que a realidade é uma experiência carinhosa, o que se resume a dizer que a compaixão é real, o propósito é real, a vida é real. Isso é algo em que temos de acreditar. Mas a existência de D'us – como a maioria das ideias sobre as quais os homens discutem – esta é apenas uma questão de semântica.

Pense simplesmente: Você acorda pela manhã e, antes mesmo do café, há. Realidade, existência. Não “as coisas que existem”, mas a existência em si mesma. O fluxo, O infinito fluxo de luz e energia. Do ser, da existência. Do é. Pense em tudo que flui da “sersisse” num ponto único, perfeitamente simples. Entre nele, comungue com ele, fale com ele, torne-se um com ele, - isso é D'us. 

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