7 de maio de 2011 | 15h11
Ethevaldo Siqueira
Coluna do Estadão de domingo, 8 de maio de 2011
Cultura? História? Ou outras causas, como educação, inovação, espírito empreendedor de imigrantes, políticas públicas ambiciosas, desafios da segurança ou influência da personalidade da mãe judia? Talvez nenhum desses fatores, isoladamente, possa explicar as profundas transformações que ocorreram em Israel, desde a sua criação, em 1948, até hoje, naquele território desértico, menor do que Sergipe. É mais provável que todos eles, combinados, possam explicar o sucesso extraordinário dessa nação.
Eis aí a tese central do livro “Nação Empreendedora – o milagre econômico de Israel e o que ele nos ensina”, de Dan Senor e Saul Singer (Editora Évora, São Paulo, 2011), que acabo de ler e recomendo com entusiasmo.
Ao apanhar o primeiro exemplar, fui logo atraído pelos textos da contracapa, em especial pelo trecho a seguir, que resume a curiosidade de tanta gente: “Como é possível um país de pouco mais de 7,6 milhões de habitantes (dados de 2010), com apenas 62 anos de existência, situado em território sem recursos naturais e enfrentando constantes conflitos militares, gerar mais empresas (start-ups) do que nações maiores, pacíficas e estáveis como o Japão, a China, a Coreia do Sul, o Reino Unido e Cingapura somados? Como pode Israel atrair, por habitante, duas vezes mais investimentos de capital de risco (venture capital) do que os Estados Unidos – e três vezes mais do que a Europa?”
O passado
Além de ler com avidez o livro, ainda tive o privilégio de entrevistar um de seus autores, Saul Singer, jornalista israelense do Jerusalém Post, em sua visita a São Paulo.
Sobre os fatores que mais influenciaram positivamente o desenvolvimento do país, Singer explica: “A cultura e a históriatêm sido, em minha opinião, os fatores mais importantes para o progresso e o desenvolvimento de Israel. Foram elas que criaram o clima e, mais do que isso, as habilidades para seu espírito empreendedor e de liderança. O papel da mãe judia é clássico, como estimuladora do espírito empreendedor em Israel, aliás, motivo de orgulho para os jovens e, claro, para suas mães”.
Sobre o papel e a qualidade da educação no desenvolvimento do país: “A grande contribuição da educação em Israel está na qualidade da universidade, não apenas nos últimos níveis, mas desde a base, a graduação. E uma das razões desse sucesso repousa também no papel educacional do exército israelense. O jovem que faz o serviço militar chega à universidade com muito mais seriedade, maturidade e senso de responsabilidade. Essa combinação entre a influência do exército e a qualidade do ensino universitário explica também grande parte de nosso sucesso como nação.”
Sobre o estágio de desenvolvimento da biotecnologia e dananotecnologia: “As pesquisas de biotecnologia estão muito avançadas, especialmente as pesquisas em dispositivos médicos e aplicações farmacêuticas. Em nanotecnologia, o governo tem investido muito mais nas pesquisas em universidades, nos últimos anos. São duas áreas estratégicas para o futuro de qualquer país desenvolvido”.
O livro de Dan Senor e Saul Singer está dividido em quatro partes: 1) O pequeno país que deu certo; 2) Semeando uma cultura de inovação; 3) Os primórdios; 4) Um país com um objetivo; e, a conclusão, com o título: “Agricultores de alta tecnologia”.
É oportuno lembrar que, para avaliar da forma mais objetiva possível a evolução de um país, é essencial que evitemos fazer dele qualquer prejulgamento, seja de simpatia ou de rejeição político-ideológica. Só assim, poderemos identificar os denominadores comuns e a diversidade de estratégias responsáveis adotadas por países como Israel, Finlândia, Coreia do Sul, Japão ou China.
Israel surpreende
No caso israelense, mesmo tendo visitado esse país diversas vezes e dialogado com alguns especialistas de vários setores, só agora consegui compreender com clareza o papel de todos os fatores responsáveis por seu progresso, depois de ler o livro de Dan Senor e Saul Singer.
Que imensa diferença entre Israel de hoje e o país que conheci há 30 anos. Ao longo desse período, percorri três vezes seu território de norte a sul, revendo os lugares principais ligados à sua história, religião e cultura, desde a fronteira com a Síria, junto às montanhas do Golan, nas proximidades, do Lago Tiberíades para além de Beer Sheva, no deserto de Negev, até Eilat, junto ao Mar Vermelho (Golfo de Aqaba).
A educação israelense conta com notáveis centros de excelência como, por exemplo, a Universidade Hebraica de Jerusalém. Ou institutos de tecnologia, como o Tecnion, em Haifa, ao melhor estilo do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). No setor industrial, o país é uma espécie Vale do Silício no Oriente Médio, por sua indústria eletrônica, de telecomunicações ou aeroespacial, como a IAI (Israel Aerospace Industries).
Numa perspectiva humanística, quem vai a Jerusalém descobre um pouco das origens de nossa civilização. Relembra o calvário de Cristo na Via Crucis. Encanta-se com a história, em especial com a arquitetura da Cidade Velha, entre cujas muralhas convivem pacificamente três grandes religiões: a judaica, a islâmica e a cristã. E emociona-se profundamente ao visitar o Museu do Holocausto.
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